Powered By Blogger

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

DE VEZ EM QUANDO ACONTECE

DE VEZ EM QUANDO ACONTECE 

Não sei onde li alguma coisa que critica esse negócio de “tá tudo muito bom, tá tudo muito bem” que costuma pairar sobre textos, notícias, reflexões…
Nem sempre conseguimos manter a ternura. Como diz o Chico Buarque, “ tem dias que a gente se sente/como quem partiu ou morreu/a gente estancou de repente/ou foi o mundo então que cresceu…”.

As alternativas escasseiam. A lista de nomes para recorrer transforma-se num papel tigrado seja pelas linhas que são passadas por sobre os itens consultados, seja pela mutação delas para arranhões de raiva. Riscamos com força a folha de papel pois ainda não temos coragem o bastante para flagelar a própria carne. A gente sente, de verdade, que diminuiu. Pior é que fazemos parte da relação de outras pessoas que esperam contar com a nossa ajuda em momentos difíceis. E não podemos fazer nada. Nada!

Se estamos  ‘aqui’, “a gente quer ter voz ativa/no nosso destino mandar/mas eis que chega a roda viva/E carrega o destino prá lá …”. Vai o destino, vai a energia de ‘expor  o peito à faca e à baioneta’, lembrando a Marina Colasanti. Inoperantes, dependendo de terceiros – que dependem de segundos e esses de primeiros – tentamos estabelecer prioridades, economias e planejar uma ‘saída pela direita’. Pior é que baixa o espírito de Hardy sussurrando ao ouvido um ‘isso não vai dar certo, Lippi’. Aí, a gente silencia. Quer dizer, o silêncio percebe que ninguém manda no pedaço e então se apropria da nossa voz, da nossa angustia de gritar.

Estamos na “roda viva”. “A gente vai contra a corrente/até não poder resistir/na volta do barco é que sente/o quanto deixou de cumprir/faz tempo que a gente cultiva/a mais linda roseira que há/mas eis que chega a roda viva/e carrega a roseira prá lá…”. Então, a gente respira fundo, jura que é uma fase, que isso vai passar. Procura, quando tem, a companhia amada e encosta no seu ombro e suspira. E quando é a companhia amada que está passando por isso e vem em busca do ombro da gente e temos que recolher e fingir que está tudo bem? Tem ainda os parentes, os amigos…

Resistimos enquanto é possível para não voltarmos ao começo. Precisamos ir em frente mesmo que seja apenas por distração. Problemas são um porto inseguro. As nossas forças se esvaem e o barco volta ao sabor de uma onda que joga – e de um vento que sopra – a vontade de uma terra estranha que não quer que atraquemos por lá.

Isto não dá samba. O escritor John Cheever escreveu no seu diário o que ele entendia como ‘última coisa a dizer’: “(…) A literatura sempre foi a salvação dos condenados; a literatura, a literatura inspirou e orientou os apaixonados, derrotou o desespero(…)”.

Cheever pode ter se ‘salvado’ – ou foi ‘inspirado’ e ‘orientado’ – pela literatura. A palavra tem força. É a força. Mas, confessa o compositor carioca, “o samba, a viola, a roseira/que um dia a fogueira queimou/foi tudo ilusão passageira/que a brisa primeira levou…/no peito a saudade cativa/faz força pro tempo parar/mas eis que chega a roda viva/e carrega a saudade prá lá …”. A ‘roda viva’ leva também a força da palavra da gente, a capacidade da gente, a perspectiva da gente.

O mundo não cresceu e a gente não se resolve tão somente pela literatura. Cresceu foi a quantidade de pessoas que se apropriaram de nós – sonhos, planos, ideias, desejos, saberes – e da nossa palavra que já não resolve nada sozinha.

A gente ficou menor e nossa ‘meia palavra’ já não basta. Os bons entendedores estão preocupados em não deixar de se entenderem.

De vez em quando acontece de a gente precisar excluir a palavra ingenuidade do nosso – hoje tão escasso -  vocabulário

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

PELA QUALIDADE DO SER HUMANO


Muito se fala em educação de qualidade. Educação de qualidade onde a responsabilidade de fornecê-la tem sido, a cada dia, transferida exclusivamente para a escola.

Isto pressupõe instalações, pedagogia e  didática de qualidade, professores e demais profissionais de qualidade, alunos de qualidade, pais de qualidade, poder público de qualidade e comunidade de qualidade. Se não for assim, vai melar !

Escola é centro de conhecimento e de convivência. Espaço de compreensão e reflexão sobre o mundo e nós dentro dele. O professor deve ser um agitador, um incendiário de aptidões. O aluno deve ser parceiro. Os pais solidários. O poder público eficiente. A comunidade contributiva.

Poesia de lado, conhecimento é quase um negócio. A escola assumiu boa parte das obrigações paternas. Mas não pode agir mais energicamente porque o aluno é um cliente. E o cliente tem sempre razão.

Independente de cobrar pelo que oferece ou ser gratuita, a escola confunde-se com um espaço público de aprendizado e um lar personalizado, individual. Escola  casa,  Casa escola. Professor pai, Pai professor .
É, sem tesão não há ereção. O nível de qualidade dessas relações não cresce.

Conversa fiada? Não. Um casal amigo meu caminhavam pela calçada. Ele, cavalheiro à moda antiga, bem antiga de levar a amada até o trabalho. Ela, pessoa de coração generoso, gente da melhor qualidade. Os dois seguiam, cada um levando vários objetos. Mãos desenlaçadas, corações eternamente ligados. Olha a poesia…

No trajeto,  dois meninos na faixa de 12,13 anos. Tão logo os ultrapassaram, um desses meninos disse “ aí,meu Deus”. O casal seguiu. Instantes depois, volta o menino: “que que é isso,gente”. Mais um pouquinho e “maravilha”. Meus amigos continuaram o  percurso e a conversa animada sobre planos, estabilidade financeira, confirmação do amor mútuo. Então o menino falou mais alto; “gostosa”. E as duas crianças ficaram .

Meu amigo deixou a amada no local de trabalho e voltou pelo passeio. O que ocasionou encarar os dois adolescentes e passar por eles. Assim o fez. Aí, um dos garotos disse “ é, passa e não olha pra trás”.
O amigo deu alguns passos, parou e voltou para os meninos. Os dois uniformizados. Alunos de uma escola pública nas proximidades. Um dos meninos segurava uma peça de ferro dobrada e niquelada. Talvez apanhada no lixo de uma residência. Quis dar uma lição de moral. Depois quis dar uma surra. A seguir, quis discursar sobre um tanto de coisas que lhe veio à cabeça: estatutos, códigos, demagogias, mistificação da bondade…

Virou as costas e voltou para casa. Pensando na vergonha que sentiria, ainda que adulto,  na frente dos pais quando esses lhe chamassem a atenção pelo que ele poderia ter feito. São crianças, eles poderiam dizer. Um dia crescem e aprendem, concluiriam.

Sei não. Sei não.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CAMINHOS


Encontro com um amigo de meu filho caçula dentro do ônibus. Menino bom, educado, conversa tranquila, olhos brilhantes.

Cumprimentos de praxe, nós dois em pé pois  é um horário com número reduzido de veículos. E qual  o horário que não é , se os carros da linha que me serve estão sempre lotados, indo e vindo? Pergunto sobre os pais dele, se ele está estudando, trabalhando.
Os pais vão bem, está estudando à noite, faz um curso no Senai pela manhã e trabalha em meio expediente em um escritório de advocacia.

Vamos trocando impressões sobre trabalho, estudo, família, individualidade, que pais não são donos, filhos não são  propriedade. Até que ele se despede. E segue seu destino de menino/homem.

Continuo a viagem e me vem à memória meus tempos de ginasial – sou do tempo do primário,admissão,ginasial e científico – no Colégio Estadual de Minas Gerais, anexo Sagrada Família.
Na terceira série, estudei na ‘Terceira C’. Entre os meus colegas um se destacava. Só tirava nota alta, entre 9 e 10, sabia de tudo. Fera em Matemática, Inglês,Francês, Português, Física,Química. Pereba nos esportes. Tímido até não poder mais.

As provas eram bimestrais. Com trinta pontos a gente passava direto, sem prova final.
Eu recordo que esse meu colega precisou das notas do quarto bimestre apenas em Matemática e Francês. Passou em tudo,direto!(como se dizia no jargão escolar).

Na quarta série mudei de escola. Nunca mais tive notícias desse colega. Mas ele sempre foi o meu grande exemplo de estudante.

Lá nos meus 33 anos, depois de terminar o agora segundo grau via supletivo(com o apoio e o carinho da Edir Valadares, então diretora do CESU – Centro de Ensino Supletivo), encarei um vestibular e…passei!
Comemorações, adaptação com o ensino superior, ali estava eu  iniciando a minha graduação em Jornalismo na Fafi-BH.

Certo dia, entro no ônibus – meu karma – e quem é que eu vejo sentado na poltrona perto da porta traseira, depois da roleta(ainda se entrava pela porta de trás e a roleta ficava à direita de quem entrava)? O meu exemplo de estudante.

Ele se lembrava de mim, meu nome, os tempos de ginásio deixados num passado de… 16,17,19 anos? Não importava muito.

Diante dele, fiquei empolgado e contei que estava estudando Jornalismo, apesar dos 30 anos, dois filhos e tal e tal. Valorizei meu esforço, expus planos, metas. Havia traçado uma carreira de sucesso inquestionável. Mas, e ele, o estudante mais inteligente, mais brilhante que eu conhecia? O que era da vida dele?

Ele, sempre educado, estava um pouco mais soltinho, mais conversador. Tinha até um maço de cigarros no bolso. Pediu-me desculpas, levantou-se e avisou que ia descer dois pontos à frente. Apertou minha mão. Contou,rápido, que concluíra o curso científico e abandonara completamente os estudos. Não quis mais saber de nada que dissesse respeito a livros, sala de aula, provas. Nada!

E então?

Então ele me contou que era gerente de um depósito de material de construção naquela avenida mesmo. Agora entendia de areia,tijolo,cimento. Eu sabia qual. Garantiu que a vida estava ótima e que fora um prazer me reencontrar. Desejou-me felicidades e se foi.

Não o vi mais. Precisei de 21 anos para concluir minha graduação – incluindo um novo vestibular e um histórico escolar quilométrico – e aos 53 anos defendi minha dissertação de Mestrado.

Com a duplicação da avenida, o depósito onde o meu exemplo de estudante trabalhava foi demolido. Perdi a sua referência.

E, 24 anos  depois do meu reencontro com ele, espero revê-lo para saber como andam as nossas felicidades.

Fotografia de acervo

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"É PROIBIDO PROIBIR"


Lá pelos anos 1960, as ruas de Praga, na então Tchecoslováquia, eram espaço de luta contra o stalinismo. Contra o racismo, as pessoas saíam pelas ruas dos Estados Unidos.Era o tempo da guerra do Vietnã, da morte de Guevara, da ditadura militar no Brasil.

Os estudantes franceses, sob a égide do “é proibido proibir”, esbravejavam pelo fim do conservadorismo. Essa brisa transformadora chegou ao Brasil e Caetano compôs “É proibido proibir” : (…) “Me dê um beijo meu amor/Eles estão nos esperando/Os automóveis ardem em chamas/Derrubar as prateleiras/As estantes, as estátuas/As vidraças, louças/Livros, sim…/E eu digo sim/E eu digo não ao não/E eu digo: É!/Proibido proibir/É proibido proibir/É proibido proibir/É proibido proibir/É proibido proibir”…
Estamos acostumados a navegar por mares de proibições e permissões. Por ondas transgressivas e marés repressivas. Ora é uma ‘nova onda no ar’; ora é ‘algo de podre no reino’ de qualquer Dinamarca.Pode isso, não pode aquilo. Com poesia e ternura. Sem verso e sem prosa.

Agora, a proibição mais recente pode vir lá da República do Malauí, no sudeste da África. O parlamento malauiense quer ressuscitar uma lei do tempo em que eles eram colônia e que proíbe que os cidadãos de Malauí soltem gases em público. É, a lei anti-pum . O pessoal vai ser obrigado a segurar a flatulência até chegar em casa.

Flatulência vem de Flato, do latim flatus. A palavra significa sopro. Popularmente conhecido como peido, esse sopro é uma composição de gases altamente variável, expelida pelo ânus. Essa composição variável inclui uma parte do ar que engolimos(nitrogênio e dióxido de carbono, uma vez que o nosso organismo absorve o oxigênio)  e os gases produzidos pelas  reações químicas entre ácido estomacal, fluidos intestinais e flora bacteriana(além do dióxido de carbono, o hidrogênio e o metano).

O odor dos puns decorre em função das quantidades de sulfeto de hidrogênio (gás sulfídrico) e enxofre livre. Quer dizer, quanto mais enxofre tiver os alimentos que a gente consome…. Quanto ao som, ele é  produzido pela vibração da abertura anal. Depende da velocidade de expulsão e do estreitamento da abertura dos músculos do esfíncter anal.

Tratado científico de lado, o governo de Malauí alega que “ tem o direito de manter a decência pública”, declarou o ministro da Justiça e de Assuntos Constitucionais, George Chaponda.Chaponda, conforme publicado emhttp://br.noticias.yahoo.com/s/afp/110204/mundo/malau___pol__tica_curiosaindaga se  ”por acaso querem que as pessoas soltem peidos em qualquer lugar?”Segundo o ministro, “agora e devido ao multipartidarismo e à liberdade, as pessoas se acham no direito de se soltar em qualquer lugar”.
O certo é que se a lei pega, abre uma oportunidade para os empreendedores de plantão comercializarem o porta-peidos , ou o filtro purificador de puns, ou o kit de soprinhos aromatizados.

Prefiro as ‘liberdades democráticas’ e o incentivo à ‘livre iniciativa’. “É proibido proibir” .

* A ilustração está em www.marialuizabarbosa.blogspot.com

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

DEPOIS DAQUI


Com o título traduzido de modo ‘oportunista’, aproveitando os resquícios da onda espiritista que passou pelo cinema e pela televisão, o filmeHEREAFTER , dirigido e produzido por Clint Eastwood, é uma dessas narrativas bem realizadas que vão direto ao assunto.

Clint quer falar sobre como é depois que morremos. Para isso, o roteirista Peter Morgan escreve uma história em que três pessoas tem relação distinta com a morte: George (Matt Damon), estadunidense, é um vidente desde a infância. Ganhou dinheiro com isso.Arrependeu-se e sente que não tem um dom. Que manter contato com a vida depois daqui é uma maldição; a jornalista francesa Marie (Cécile De France) que experimenta a “quase morte” durante um tsunami; e o menino inglês Marcus que sente a perda do irmão gêmeo e quer que ele volte.

Não é um filme espírita ou sobre o Espiritismo. Nem científico. É um filme sobre a vida, a morte, a fragilidade humana e sobre uma trama misteriosa que liga todos nós nesta circularidade prisional chamada Terra. É um drama, sem o dramático. O espectador é convidado a assistir uma história linear, sem surpresas – ainda que a sequência do tsunami seja surpreendente. O ritmo é o da vida, não o do cinema. As situações acontecem, as decisões são tomadas, as consequências são mostradas. Cada um escolhe o caminho a seguir. Não é um tratado, uma dissertação, um “por minha culpa, minha máxima culpa”.

A morte causa incômodos e mudanças. Pessoas ‘espertas’ tiram proveito disso.Pessoas dignas pesquisam o tema. Incautos existem aos montes. Estudos hilários e estudos sérios são realizados. A semelhança de relatos entre os que “morreram e ressuscitaram” é a principal evidência de que “tem alguma coisa do outro lado”, um “além da vida” na matéria.

Mais que isso, só interpretações, opiniões, teorias e crenças. Nem as ciências, nem as religiões – e nem o nosso oráculo moderno, o Google – tem respostas. O certo é que vamos morrer. E pronto!
Daí que Eastwood dirige com mão metódica um trabalho que sugere o seu direito de opinar; um comunicado de que ele sabe que, a qualquer momento, estará descobrindo o ‘depois daqui’. Um privilégio que não é exclusividade sua.

A gente se encontra lá!

A fotografia de ilustração está em www. celebridades.uol.com.br

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

DA VIDA E DA MORTE


O domingo prometia ser daqueles bem animados, ar de festa, de ver pessoas, reencontrar amigos.

Depois da leitura dos jornais, lá pelas 10 da manhã, fui até o churrasco de confraternização do “Amigos Peladeiros” convidado pelo Reginaldo, um dos organizadores e amigo já citado em outro texto. Risos, apresentações, uma carne e um um refrigerante.Sol rachando mamona.

Voltei para casa por volta das 12 horas.Garrafa de refrigerante sobre a mesa, computador e rádio ligados.Toca o celular.É o Leo Fontes, outro grande amigo e profissional de vídeo de primeira linha. Leo me conta da morte do Joaquim Santana., cinegrafista com quem trabalhei por muitos anos em produções para o SSV – Sistema Salesiano de Videocomunicação junto com Wandir Brandão, Geraldo Secundino, Antônio Machado, Sérgio Magalhães, Paulo Roberto Guimarães e Bernardo Santanna(apesar do sobrenome, sem parentesco com o Joaquim).

Notícias de morte, na melhor das hipóteses, incomodam. Da morte de amigos – no caso do Santana, uma amizade de 19 anos – dói. Não pela morte em si. Mas pela falta de oportunidade de estar mais perto dele, de conversar, de fazer planos. Protelamos os mais importantes compromissos em virtude dos infindáveis compromissos sem importância que viciamos em cumprir.

Morreu um amigo, um profissional emocionado, capaz de qualquer coisa em favor de alguém que lhe fosse querido. Bebemos ótimas cachaças, falamos de amores e desilusões, lemos Drummond. Captamos imagens do mundo como se quiséssemos montar o nosso próprio. A vida da gente é um quebra-cabeças sem um modelo para nos orientar na montagem. E deixamos de nos ver há pelo menos 5 anos.

Início da noite – que no horário de verão sempre nos engana – vou para a festa de aniversário do Nathan, “o presente de Deus” . O primogênito do Rômulo Breda e da Simone.

Rominho eu também conheci no SSV, na mesma época que o Joaquim. Era um editor que um dia confidenciou uma indecisão: se continuava como editor ou dava um ‘salto’.Como adoro o risco – em algumas situações,claro, pois não sou assim tão bobo quanto pareço – opinei que ele devia ‘saltar’. Hoje, além de profissional e diretor bem sucedido e reconhecido no mercado de vídeo, ele é o esposo da Simone e pai do Nathan. ‘Saltou’, mesmo! É um homem.

Na mesma festa Wandir Brandão,Vander Cláudio, Luciana Katahira, Davi Teodoro, Enerson e Paulinho. Amigos comuns meus, do Rômulo e do Joaquim. Durante algum tempo, o assunto foi a morte.

Aos poucos, mais relaxados, nos envolvemos com a música, as brincadeiras,os salgadinhos, refrigerantes e os docinhos. “Ah, os docinhos”, dirá o doutor Antônio Cícero ao ver meu próximo exame de glicose.
Hora do parabéns. Rominho, com a esposa e o filho, lembrou que ele e a Simone eram os arqueiros do filho.

O casal são arqueiros da vida. Nathan é o grande presente para todos nós, recém arremessado ao mundo. O mundo que eu e Joaquim tentamos montar. O sentimento de todos nós é de que a trajetória desse ‘presente de Deus’ seja a mais bela possível.

A trajetória de Joaquim Santana terminara na manhã do domingo. Agora, um outro arco o lançava para uma misteriosa trajetória. E nós também desejamos que seja a mais bela possível.

O melhor a fazer era comemorar. Se emocionar com os reencontros. Abraçar afetuosamente os outros. Amá-los ‘como se não houvesse amanhã’. Celebrar os acontecimentos mais importantes do ser humano: a vida e a morte.

Obrigado, Joaquim! Bem-vindo, Nathan!

* Fotografia de acervo

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O TEMPO


Olho o tempo.

Não! Alguém dentro de mim olha por mim um tempo que eu não quero ver. Não querer.Sou só não querer. Não me quero! Não quero as explicações sobre mim.
Nada! Eu não quero a velhice.

Quando eu era pequena, aprendi que a coisa mais velha do mundo é o universo.
E o universo continua ali, todos os dias . E diariamente estou aqui. Sem astronomias ou relatividades. Sem astronomias o relatividades . Como eu não tenho a disciplina de observar mudanças, o infinito, com suas estrelas de guiar os anjos é o mesmo desde o dia que eu soube que ele era a primeira de todas as coisas.

Eu não! Eu ainda sou a mesma outra.A mesma sozinha, medrosa…Que tem medo do escuro e de engravidar. É, engravidar. Se Deus pariu o mais antigo que existe, porque eu não posso me engravidar de um caos e de outro e de outro, até o dia do juízo final?

Meu medo é que um bem-te-vi pie três vezes no telhado da minha casa e deixe lá os agouros da má sorte. Mas eu dizia que eu não quero a velhice porque eu não quero ser por muito tempo. Acho que é mais por cansaço. Ser cansa, me ocupa de obrigações. Se houvesse alguém que pudesse ser por mim, talvez…
pois é, se houvesse alguém que pudesse me pegar nos braços, me soprar de amor… aí sim, a luz se faria em mim e eu brotaria estrela pra encantar-me de sempre. E de sempre eu encheria a vida do meu amor de infinita alegria.

E daríamos cordas em nós mesmos e sairíamos pelo vento das ruas desvendando esquinas, experimentando copos, bebendo sereno, paixão, saliva. De sempre estrela, eu constelaria no olhar dele. E romperia a ordem inter-estelar de todos os meus medos e gritaria para o mundo: eu amo! Eu amo! Eu amo!

Mas eu não sei juntar as coisas para construir o meu sempre.Sou desconjuntada, desconexa, desfeita, desconfortável… eu sou des… humana! Ai, eu, lesma morta! Mosca de sopa! Dulcinéia sem romance, sem autor. Eu sem página. Eu que não conto.

No retrato, ele. Ele e o retrato guardado entre as minhas roupas. Meus segredos não respiram, meus segredos não têm força. Eu, não tenho força e escondo-me entre as minhas roupas. Sou vazio entre molduras. Sou fora do tempo.

Ah! O tempo! O tempo mesmo que eu não queira haverá de chegar. Imponente, rodeará meu corpo, lamberá minhas feridas, infeccionará minhas pequenas cicatrizes. E o meu corpo  que não exala nem seus próprios medos continuará aqui, cheio de perspectivas.

Eu sou apenas ressalvas, eu sou, apenas…

* Fotografia de acervo

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

ONILDO COISINHA COMENTA O CIGARRO

DE VOLTA AO PASSADO

DE VOLTA AO PASSADO *
O acadêmico Vivaldi Moreira define o dicionário “ como certas pessoas que o acaso nos prega a peça de encontrá-las numa caminhada pelas estradas da vida” . Segundo ele, “ saímos de casa com um propósito, um destino fixo ou prefixado, mas acabamos seguindo para onde a personagem imprevista nos conduz “ .

Gosto de consultar dicionários, pesquisar palavras. Costumo rabiscar algumas impressões sobre a vida a partir de palavras curiosas que encontro nas minhas viagens solitárias por entre os verbetes. Songamonga, por exemplo.

Tem espertinhos que dizem que o dicionário “ é o pai dos burros “ . Burrice é a deles. Dicionário, se porventura podemos impor-lhe alguma paternidade, é progenitor dos inteligentes, dos ávidos de saber, dos angustiados com a ortografia e dos curiosos, como este que atreve-se a estas digressões pessoais.
Desta vez quem me pegou foi  a palavra Nostalgia.

No meu tempo de criança, ainda na rua Bicas, o leite vinha em garrafas de vidro ou era comercializado em pequenos caminhões, as “ vaquinhas “. De porta em porta passava o vendedor de biju sacudindo a songamonguice da rua com sua matraca: telec, telec …

O mercado mudou. Tanto o comerciante quanto o cliente. Ensacaram o leite. Encaixotaram-no nessas embalagens tetra brik aseptic. A caixinha é uma verdadeira enciclopédia sobre uma das dádivas da Terra da Promissão. Dentro dela , um leite longa vida “ UHT Integral “ ( Ultra High Temperature ). Isto quer dizer, segundo a sapiência de papelão, “ que consiste num tratamento térmico à alta temperatura, por poucos segundos, mantendo as qualidades essenciais do leite”.

A lactante alfabetização ainda identifica os componentes nutricionais e um tal de  “estabilizante citrato de sódio “ que, conforme me explicou a Rosa, “deve ser alguma coisa que eles dão pras  vacas ficar quetas na hora deles colocar aqueles canudinho nas mama delas “ ; orienta o que fazer com a embalagem vazia, diz que não é preciso ferver o líquido e que “ não deve ser usado como única fonte de alimentação do lactente, salvo sob orientação de médico ou nutricionista” ; informa o telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor e o endereço do site na Internet. Mas não espere ser atendido por uma vaca ou receber um e-mail bovino.

Um vendedor de pães buzinando seu produto pela rua funcionou como uma máquina do tempo. Ele não carrega um balaio de vime no antebraço. Nem oferece biscoito de polvilho, broa, pão de queijo, brevidade. É só pão doce e de sal dentro de uma caixa verde de plástico cobertos por um plástico transparente. O som da buzina, ainda que tão cedo, é uma sinfonia de saudade. O vendedor de algodão-doce também usa uma para atrair compradores. No ombro vem sustentando uma árvore de cabelos de açúcar. De diversas cores, como o são os dos meninos deste tempo “descolado”. O toque é tranquilo, respeitoso. Comportamento bem diferente dos torcedores que saem do campo de futebol, após a vitória de seu time e danam a socar a buzina de seus automóveis e a gritar suas burundangas, numa espécie de extensão do massacre futebolístico.

Me agrada muito a palavra loas. A Letícia, colega de universidade, tem simpatia por lágrima. Acredita ela que é uma palavra forte, de múltiplos significados, que extrapola o espaço que lhe é destinado entre os vocábulos.
Pode ser que ela tenha razão. Pode ser que o seu ponto de vista me ajude a compreender estas que insistem em escapar de mim.

A fotografia está em  www.overmundo.com.br

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A FOTOGRAFIA


Minha mãe, enquanto remendava uma roupa, dizia que o homem é o chefe, o marido é o senhor.Nossas atenções fixadas naquela vozinha mansa, indo e vindo feito o rádio na hora do Angelus. Minha mãe assemelhava-se ao antes de tudo. Limpa.

Nesse de vez em quando de conversa dava sinal de estar no mesmo tempo que nós.Era, na maioria do sempre, calada, mas gostava de ruídos. Vagamente pensava, num lá longe despalavreado. Costumava ter medo de escuro.  Parece que só se fiava nos galos. Porque os galos, provavelmente,  cantavam a canseira que ela andava sentindo das coisas.

Buscava refúgio nas orações. Ia sofrendo nos seus desencontros.Entardecia antes, nas profundezas de uma meditação inquieta. Sua vida era para dentro, como se não fosse. Vivia de si mesma, ingerindo seu interior. Desapercebidamente foi mudando de casca e virou outra, e outra, e outra. Passou por nós. Nos remendos e no tricô talvez tenha escrito alguma coisa sobre ela. Mas ninguém, que eu saiba, teve paciência de ler.

A gente fica ouvindo nossa mãe e sua solidão. Entendendo a importância do homem, as precauções contra os sozinhos futuros. Cabia-nos submeter às suas intenções e ordens  e retribuir com uma comidinha bem feita, uma roupa cada vez mais alva e cheirosa, e uma fertilidade de povoar a Terra. Para o homem o sacrifício, o esgotamento de nós.

Sobre as minhas intimidades  aprendi a falar com os termos que minha mãe me disse. Por sinal, muito pouca coisa ela soube me ensinar. De qualquer forma, passados uns tempos, meu corpo e eu mesma conseguíamos esconder nossas debilidades. Ninguém notava. Às vezes, nem eu. Repetia minha mãe.

Toda noite ela pedia a Deus  que fizesse felizes todos os seus filhos.  Acendia vela, depositava flores e confiança aos pés de seus santos. Cuidava da casa carinhosamente,  sua construção de vidro indestrutível. Não fazia mais conta de quantos anos tinha.  Preocupação desnecessária. Que salvação, que prêmio pode alguém conseguir reunindo anos? Reunir o que já estava irremediavelmente perdido?  Ela sabia que era uma subtração suicida,  cujo resultado apontava sempre um resto, uma sobra da qual não sabia quanto mas que até amanhã já era muito.Contar a idade, ela dizia, mata mais depressa.

Olho o retrato de mamãe. Seus olhos na sombra. Encolhida na vergonha de se deixar fotografar. Vestida de preto. Em volta, plantas, pedras, muro, sol. Ela única. Externamente indivisível. Um riso ensaiado de todo dia. Olhar aéreo. Virginianamente sintonizada com as nuvens. Gasosa lembrança. Só.

*  A fotografia está em  www.sagrado-feminino.blogspot.com

BUSÃO

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

RUAS


Se esta rua fôsse minha,
eu mandava ladrilhar
com pedrinhas de brilhante
para o meu amor passar

Pelas ruas passam nossos amores. Às vezes, eles moram lá. Por trás de uma janela podem nos aguardar notícias, semblantes, expectativas, gente. Vida.
Rua da gente. Rua que é artéria de uma anatomia urbana de asfalto,construções,destinos. Rua que é minha, que é sua. Rua de dar as mãos, de dar adeus. Rua de deixar o olhar vagueando em busca de histórias.

Esta rua que é minha
eu pedi pra congelar
com lasquinhas de instantes
onde o meu amor vai sempre estar.

A gente conhece a nossa rua? O que mudou nela de ontem para hoje? Vizinhos novos? Casas novas? O ônibus mudou o trajeto? O pessoal da limpeza urbana já passou. Aquela árvore da esquina, por qual motivo secou? O sabiá laranjeira continua cantando entre as acácias? Qual a razão da minha rua ter esse nome? Quem é essa pessoa, ou essa cidade, ou essa árvore, ou essa pedra, ou esse rio, ou esse país, ou esse número, ou essa letra que me empresta o nome para que outras pessoas saibam onde me encontrar numa cidade tão grande quanto a minha?

Fazemos  parte da nossa rua e, muitas vezes somos tão indiferentes com ela. Às vezes, basta pisar no passeio para que tudo se transforme numa coisa comum, insonsa. Quanta coisa tem a nossa rua ! É preciso ter paixão.

Você observa a sua rua? O que a sua rua tem que faz você parar um pouco para observar? Fala sobre sua rua? Qual o nome da sua rua? Você sabe o que significa ou quem é ?

Belo Horizonte, São Joaquim de Bicas, Catas Altas, Piumhi. Araçuaí, Tóquio, Amsterdan. Não importa a cidade. Todas elas tem  particularidades contidas em suas ruas. Linhas de sua história.

Uma rua não pede identidade. Uma rua deseja aproximações. Uma rua quer abraços. Uma rua é uma janela das infinitas janelas de um prédio infinito chamado cidade. Uma rua é sua, é minha. Uma rua é da vida. Vida que é nossa. Uma rua é o poema. Uma rua é o poeta. Uma rua são destinos. Uma rua são começos. Uma rua são fins. Por uma rua vai-se à China. Por uma rua chega-se à paixão. Uma rua devia ser, para sempre, a nossa liberdade.

ONILDO COISINHA COMENTA O SALÁRIO MÍNIMO

domingo, 6 de novembro de 2011

sábado, 5 de novembro de 2011

CORRENTES

A SALA DE VISITAS


Revejo alguns trabalhos que eu fiz para a televisão. Entre eles estão os programas GENTE e FESTAS DE MINAS, exibidos pela tv Horizonte entre 1999 e 2002.No início, foram produzidos pela Ilha 3. Depois pela própria tv. Trabalho que só se concretizou pela cumplicidade de talento dos cinegrafistas,editores,produtores e quem assistiu.

Personalidades e anônimos emprestaram um pouco de seus tempos e dividiram suas histórias, suas artes, suas impressões sobre a vida. No transcorrer das gravações, confirmei uma expectativa que tinha(e tenho): todos nós tempos uma narrativa particular sobre nós mesmos, nossa origem, ancestrais e descendência, sucessos, decepções, lições de vida, exemplos.

Conheci artistas, políticos, coveiros, pedreiros, seleiros,sapateiros,doutores,músicos, artesãos, tratadores de serpentes, gentes repletas de surpresas e dons. Equipamento montado, a prosa começava. Claro que escolhi muitos desses ‘entrevistados’. Por respeito, por fazerem parte da minha infância e adolescência, por suas competências, talentos e experiências. No cemitério do Bonfim conversei com o Salim. Num barracão aconchegante fui abençoado por Sá Luiza. Ouvi Paulinho Pedra Azul, Tadeu Franco, Chico Lobo, Ana Cristina, Júlia Ribas, Marku Ribas, Trovadores do Vale…

Ao rever essas prosas, esses versos, essas artes, reencontro-me numa grande sala de visitas. Sala de portas sempre abertas para receber os relatos e as confidências de seres humanos. Sala onde se houve distinção foi a que procurei dar a cada convidado. Sala  onde risos, lágrimas e melodias continuam a circular. E onde, de vez em quando, costumo me acomodar.

Para prestar atenção na minha própria história.

Fotografia de acervo

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DEU 'TILT' NO ZODÍACO


E então, você se lembra do Professor Sagitarius, da Zora Ionara, do Omar Cardoso?

E sua ascendência, descendência , elemento terra, água, ar ou fogo?

Pode ser que você ainda não teve sorte no amor por uma situação ocasionada pela atração gravitacional que a Lua exerce sobre a Terra. Daí que  o alinhamento das estrelas foi empurrado por cerca de um mês. Então, tilt no seu mapa astral! Saí de Capricórnio e vai para Sagitário. De Virgem para Leão. De Câncer para Gêmeos.

Quem resolveu chacoalhar a toalha do céu foram os astrônomos do Planetário de Minnesota, nos Estados Unidos. De acordo com Parke Kunkle , os signos mudam de acordo com a movimentação da Terra e do Sol. Daí,  com essa ‘empurradinha’, uma vez que os signos astrológicos  são determinados pela posição do Sol no dia em que nascemos, talvez tudo o que ‘sabemos’ sobre nosso horóscopo esteja errado. A tese do pessoal de Minnesota gera controvérsias. Por isso, o talvez no meio da frase anterior.

Os críticos dessa ‘mudança’ alegam que um 13º signo deveria fazer parte do zodíaco, o Ophiuchus ou Serpentário, cujo símbolo é a cobra. Ele teria sido ‘excluído’ da seleção na Antiga Babilônia. Tem até constelação com seu nome.

Bom, se a sua sorte vai mudar com essa versão século 21 do horóscopo, ótimo! Dureza é o tal do Serpentário. Cair nessa casa, sei não. Acontece que a quantidade de cascavéis, jararacas, urutus, corais e outras de peçonha menos midiatizada ‘escondidas’ em Touro,Virgem,Aquário,Gêmeos,Libra…

Já pensou essa turma toda em um único signo? Aí o céu cai!

A fotografia de ilustração está em www. lanternadojuizo.blogspot.com

sábado, 29 de outubro de 2011

DEPOIS DAS 1001 COISAS


Volta e meia aparece um 101 ou 1001 vinhos para beber,livros para ler, lugares para fazer amor, discos para ouvir, monumentos para visitar. Daqui a pouco virão os tantos cães para criar, as flores para cheirar, as tinturas de cabelo, os peixes de aquário.

 Na carona, indico, como sugestão, pessoas para não esquecer, pessoas para esquecer, pessoas para conhecer, pessoas para visitar, pessoas para dizer alô, pessoas pra dizer olá, pessoas para se desculpar, pessoas para dizer te amo…Só não vale via email, facebook, orkut, twitter, entre outros. Também não vale em livros. Tem que ser na lata, na cara, no visual!

Esse negócio de coisas para fazer,ver,falar, comer, beber,ouvir e amar antes de morrer parece uma maneira da gente, sem esquecer da finitude, acreditar que assumindo o compromisso de tentar vencer ‘a lista’ estamos mais distantes de morrer. Ou que a Morte, num ato magnânimo, vai nos deixar livres,leves e soltos enquanto estivermos assistindo filmes antigos, ouvindo discos do Frank Sinatra ou bebendo vinhos caríssimos.

Se é assim, ninguém vai completar os 101 ou 1001…itens!

O negócio é próspero para as editoras desse tipo de livro. A série 1001… de uma delas já vendeu mais de 200 mil exemplares no Brasil e uns 5 milhões no mundo. Acredito que no título “1001 maneiras de ganhar muito dinheiro antes de morrer” publicar livros semelhantes seja uma dessas maneiras.

Tem um “1001 Livros Infantis Para Ler Antes de Crescer”. Mas, pensando bem, tem gente que cresceu e que precisava ler pelo menos uns 10% dessa lista.

Certo é que o “antes de morrer” aguça nosso desejo de checar o que já comemos, o que lemos, ouvimos,assistimos e de tentar ampliar essa lista de realizações.Nada contra. Tem alguns títulos que são uma espécie de livro de consulta e até massageiam o ego da gente: esses eu já assisti e fulano morreu sem ver.

Sacanagem? Então, vamos escrever o “1001 mais o que fazer antes de morrer” ?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

AUSÊNCIAS

OUTRAS 'VISITAS'

Visite www.vanderleitimoteo.wordpress.com

O DIA DE SER FELIZ





De repente, ele se lembrou de que estivera naquele mesmo local, na mesma esquina, na mesma praça quarenta e dois anos atrás.

Calção de banho amarelo, corpo magro. Ele, os irmãos e os pais caminhando rumo à praia. Com direito a uma parada em um bar para beber uma fanta uva, recém lançada no mercado.

Mais do que a recordação, o aperto maior no peito foi o de pensar que o tempo passara muito rápido. Que só agora, tantos anos depois, é que ele voltava. Qual a razão, ou as razões, para não ter feito isto antes e mais vezes?

Sentia vergonha de fazer coisas, de vez em quando, a seu favor. De investir mais na realização dos seus sonhos, na satisfação dos seus desejos.

Sempre encontrava um obstáculo, uma justificativa, um alguém ‘querido’ que precisava mais dele, do dele.
Assim, não conseguia perceber o que se ia dele, sem volta. Não enxergava que os outros estão cuidando de si e não se disponibilizam a favor dele.

Suspirou fundo. Reconheceu que carregava a culpa de querer ser feliz. E que nem fanta uva tomava mais.

* Foto arquivo pessoal

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

BICICLETAS




Saber como se faz não é, necessariamente, saber fazer. De vez em quando a gente se esquece disso e arrisca. A chance de não dar certo…é certa!

Sei andar de bicicleta. Melhor, de bike. Bicicleta é palavra tão antiga quanto eu. Aí, resolvi aceitar um convite e pedalar. Mistura de vaidade com amor-próprio e …

…pista estreita dividida com caminhantes (ou caminhadores). Dificuldades de adaptação ergonométrica com o veículo, suas marchas.Marchas?! No meu tempo era só freio. E olhe lá!

Sei andar de bike mas não consigo fazê-lo num espaço tão estreito, cheio de curvas,morrinhos, galhos de árvores, crianças, cães e a minha acompanhante, linda e toda serelepe, rindo da minha incompetência e intranquilidade. Pelo menos, se serve de consolo, alegrava alguém com a idiotice. Parecia que a roda dianteira tinha vida própria e que de uma hora para outra todas as pessoas da cidade resolveram caminhar ou pedalar. Eu era um palhaço equilibrando numa corda bamba, sentado em uma bicicleta dona do seu próprio nariz.

O sinal de alerta veio com um quase atropelamento de uma senhora que exclamou “nossa, que horror”. Algumas centenas de pedaladas depois, encontrei o calcanhar de um senhor e quase  altero a minha agenda de domingo. A dele também.

Parei.Voltei. A pessoa que estava comigo pagou o preço de meia hora para os quase quinze minutos de uso e pânico. Depois só gargalhadas e a gozação dela.

Sei como se anda de bicicleta. Não sei fazer isso mais. Apesar de tentar ao redor de uma lagoa, o esporte não é mais a minha praia.

Infame. O trocadilho.


A fotografia de ilustração está em www. fotonostalgiablog.blogspot.com

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

MINHA LADY




Ao meu lado, deitada no seu canto, ela dorme quietinha. Porém, basta um pequeno movimento meu e ela abre os olhos, abana o rabo e aguarda.

Lady é minha companhia de todos os dias, seja aqui na sala de casa, enquanto estou em frente a tela do pc;ou deitada ao lado da minha cama, durante os momentos de leitura ou da exibição de um filme em dvd.

Conheço pessoas apaixonadas com animais, principalmente os cães. Meu pai, Luciana Katahira, Larissa Grau, o Maurício e o Cleber, meus genros. A Kate-Anne, nora, meus filhos, o Peron, Alessandro Cerri, o Umberto com o seu Duque, o João Lucas, Uly Carneiro, Rodrigo Guima. Muita gente que também adora  gente, claro!

Cães são amigos que não se explicam. São e pronto. No domingo, 9 de janeiro de 2011, no jornal Estado de Minas – caderno Feminino&Masculino, Patrícia Espírito Santo escreveu, em sua coluna, sobre seu cão dálmata, o Thor. Um cão que viveu com ela e sua família e que, “quando tinha entre 6 e 7 anos, precisei tomar a difícil decisão de doa-lo a um casal de amigos, pois não era mais possível mantê-lo solto. Ele nunca havia usado coleira e entrou em profunda depressão quando precisei prendê-lo”.

O cão chorou, sentiu a separação, acostumou-se aos novos donos. Conta Patrícia que Thor voltou para a casa dela sete anos depois. Agora, o casal amigo não podia mais ficar com ele: mudaram para um apartamento. “Fui buscá-lo tão ansiosa que mais parecia uma criancinha ganhando aquele que seria o seu primeiro ‘melhor  amigo’. Ele estava velho, já não ouvia direito, comia muito pouco, andava com dificuldade e não latia mais. Mas não importava. Eu o quis de volta, nem que fosse para poder acompanhar a sua velhice e supri-lo de tudo aquilo que necessitasse. Mas o que mais queria era que ele me perdoasse por tê-lo privado de continuar convivendo conosco”.

Coincidentemente, também no domingo, na Revista da Hora, encarte do jornal Agora, Sílvia Correa, jornalista e estudante de Medicina Veterinária, escreveu na sua coluna “Bichos”, o “Pedido dos Animais”.

Diz o texto:

“Se sirvo…
Para aplacar a solidão,
Para que você se sinta importante,quando volta para casa,
Para lamber suas lágrimas,
Para protegê-lo da violência,
Para provocar risadas e diversão com minhas trapalhadas,
Para quebrar o silêncio com o meu canto,
Para acariciá-lo com o meu pelo bonito e macio,
Para carregá-lo em minhas costas,
Para alimentá-lo e enfeitar o cenário com minhas plumas,
Por favor não me maltrate.
Não me abandone.
E não desconte sua tristeza em meu corpo.
Respeite os meus instintos e meus sentimentos.
Sim!Eu tenho sentimentos.
Cuide de mim e dos meus filhos como se fossem seus.
Porque cuido de você e dos seus filhos como se fossem meus.
Seja meu amigo e lhe serei eternamente grato.
E quando eu morrer, chore de saudade e não de arrependimento".

De volta ao texto da Patrícia Espírito Santo:

“Cerca de três meses depois de voltar para casa, ele morreu. Foi-se apagando aos poucos, sob meu olhar atento e o carinho dos que vivem comigo. Agradeci muito por ter tido a oportunidade de aprender, por meio do relacionamento com um animal, que um dos piores sentimentos que podemos desenvolver em relação ao outro é a culpa. Sempre me senti culpada em relação a ele, o que, de certa forma, me corroeu esse tempo todo. Levá-lo para casa e perceber que ele se sentiu bem apesar de todas as suas limitações, abriu caminho para que eu me perdoasse”.

A minha Lady , deitada no seu cantinho, observa o que eu faço. Me observa. Disponível. Feliz. Amiga. Sempre.

Fotografia de acervo

Arquivo do blog