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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

DE VEZ EM QUANDO ACONTECE

DE VEZ EM QUANDO ACONTECE 

Não sei onde li alguma coisa que critica esse negócio de “tá tudo muito bom, tá tudo muito bem” que costuma pairar sobre textos, notícias, reflexões…
Nem sempre conseguimos manter a ternura. Como diz o Chico Buarque, “ tem dias que a gente se sente/como quem partiu ou morreu/a gente estancou de repente/ou foi o mundo então que cresceu…”.

As alternativas escasseiam. A lista de nomes para recorrer transforma-se num papel tigrado seja pelas linhas que são passadas por sobre os itens consultados, seja pela mutação delas para arranhões de raiva. Riscamos com força a folha de papel pois ainda não temos coragem o bastante para flagelar a própria carne. A gente sente, de verdade, que diminuiu. Pior é que fazemos parte da relação de outras pessoas que esperam contar com a nossa ajuda em momentos difíceis. E não podemos fazer nada. Nada!

Se estamos  ‘aqui’, “a gente quer ter voz ativa/no nosso destino mandar/mas eis que chega a roda viva/E carrega o destino prá lá …”. Vai o destino, vai a energia de ‘expor  o peito à faca e à baioneta’, lembrando a Marina Colasanti. Inoperantes, dependendo de terceiros – que dependem de segundos e esses de primeiros – tentamos estabelecer prioridades, economias e planejar uma ‘saída pela direita’. Pior é que baixa o espírito de Hardy sussurrando ao ouvido um ‘isso não vai dar certo, Lippi’. Aí, a gente silencia. Quer dizer, o silêncio percebe que ninguém manda no pedaço e então se apropria da nossa voz, da nossa angustia de gritar.

Estamos na “roda viva”. “A gente vai contra a corrente/até não poder resistir/na volta do barco é que sente/o quanto deixou de cumprir/faz tempo que a gente cultiva/a mais linda roseira que há/mas eis que chega a roda viva/e carrega a roseira prá lá…”. Então, a gente respira fundo, jura que é uma fase, que isso vai passar. Procura, quando tem, a companhia amada e encosta no seu ombro e suspira. E quando é a companhia amada que está passando por isso e vem em busca do ombro da gente e temos que recolher e fingir que está tudo bem? Tem ainda os parentes, os amigos…

Resistimos enquanto é possível para não voltarmos ao começo. Precisamos ir em frente mesmo que seja apenas por distração. Problemas são um porto inseguro. As nossas forças se esvaem e o barco volta ao sabor de uma onda que joga – e de um vento que sopra – a vontade de uma terra estranha que não quer que atraquemos por lá.

Isto não dá samba. O escritor John Cheever escreveu no seu diário o que ele entendia como ‘última coisa a dizer’: “(…) A literatura sempre foi a salvação dos condenados; a literatura, a literatura inspirou e orientou os apaixonados, derrotou o desespero(…)”.

Cheever pode ter se ‘salvado’ – ou foi ‘inspirado’ e ‘orientado’ – pela literatura. A palavra tem força. É a força. Mas, confessa o compositor carioca, “o samba, a viola, a roseira/que um dia a fogueira queimou/foi tudo ilusão passageira/que a brisa primeira levou…/no peito a saudade cativa/faz força pro tempo parar/mas eis que chega a roda viva/e carrega a saudade prá lá …”. A ‘roda viva’ leva também a força da palavra da gente, a capacidade da gente, a perspectiva da gente.

O mundo não cresceu e a gente não se resolve tão somente pela literatura. Cresceu foi a quantidade de pessoas que se apropriaram de nós – sonhos, planos, ideias, desejos, saberes – e da nossa palavra que já não resolve nada sozinha.

A gente ficou menor e nossa ‘meia palavra’ já não basta. Os bons entendedores estão preocupados em não deixar de se entenderem.

De vez em quando acontece de a gente precisar excluir a palavra ingenuidade do nosso – hoje tão escasso -  vocabulário

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

PELA QUALIDADE DO SER HUMANO


Muito se fala em educação de qualidade. Educação de qualidade onde a responsabilidade de fornecê-la tem sido, a cada dia, transferida exclusivamente para a escola.

Isto pressupõe instalações, pedagogia e  didática de qualidade, professores e demais profissionais de qualidade, alunos de qualidade, pais de qualidade, poder público de qualidade e comunidade de qualidade. Se não for assim, vai melar !

Escola é centro de conhecimento e de convivência. Espaço de compreensão e reflexão sobre o mundo e nós dentro dele. O professor deve ser um agitador, um incendiário de aptidões. O aluno deve ser parceiro. Os pais solidários. O poder público eficiente. A comunidade contributiva.

Poesia de lado, conhecimento é quase um negócio. A escola assumiu boa parte das obrigações paternas. Mas não pode agir mais energicamente porque o aluno é um cliente. E o cliente tem sempre razão.

Independente de cobrar pelo que oferece ou ser gratuita, a escola confunde-se com um espaço público de aprendizado e um lar personalizado, individual. Escola  casa,  Casa escola. Professor pai, Pai professor .
É, sem tesão não há ereção. O nível de qualidade dessas relações não cresce.

Conversa fiada? Não. Um casal amigo meu caminhavam pela calçada. Ele, cavalheiro à moda antiga, bem antiga de levar a amada até o trabalho. Ela, pessoa de coração generoso, gente da melhor qualidade. Os dois seguiam, cada um levando vários objetos. Mãos desenlaçadas, corações eternamente ligados. Olha a poesia…

No trajeto,  dois meninos na faixa de 12,13 anos. Tão logo os ultrapassaram, um desses meninos disse “ aí,meu Deus”. O casal seguiu. Instantes depois, volta o menino: “que que é isso,gente”. Mais um pouquinho e “maravilha”. Meus amigos continuaram o  percurso e a conversa animada sobre planos, estabilidade financeira, confirmação do amor mútuo. Então o menino falou mais alto; “gostosa”. E as duas crianças ficaram .

Meu amigo deixou a amada no local de trabalho e voltou pelo passeio. O que ocasionou encarar os dois adolescentes e passar por eles. Assim o fez. Aí, um dos garotos disse “ é, passa e não olha pra trás”.
O amigo deu alguns passos, parou e voltou para os meninos. Os dois uniformizados. Alunos de uma escola pública nas proximidades. Um dos meninos segurava uma peça de ferro dobrada e niquelada. Talvez apanhada no lixo de uma residência. Quis dar uma lição de moral. Depois quis dar uma surra. A seguir, quis discursar sobre um tanto de coisas que lhe veio à cabeça: estatutos, códigos, demagogias, mistificação da bondade…

Virou as costas e voltou para casa. Pensando na vergonha que sentiria, ainda que adulto,  na frente dos pais quando esses lhe chamassem a atenção pelo que ele poderia ter feito. São crianças, eles poderiam dizer. Um dia crescem e aprendem, concluiriam.

Sei não. Sei não.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

CAMINHOS


Encontro com um amigo de meu filho caçula dentro do ônibus. Menino bom, educado, conversa tranquila, olhos brilhantes.

Cumprimentos de praxe, nós dois em pé pois  é um horário com número reduzido de veículos. E qual  o horário que não é , se os carros da linha que me serve estão sempre lotados, indo e vindo? Pergunto sobre os pais dele, se ele está estudando, trabalhando.
Os pais vão bem, está estudando à noite, faz um curso no Senai pela manhã e trabalha em meio expediente em um escritório de advocacia.

Vamos trocando impressões sobre trabalho, estudo, família, individualidade, que pais não são donos, filhos não são  propriedade. Até que ele se despede. E segue seu destino de menino/homem.

Continuo a viagem e me vem à memória meus tempos de ginasial – sou do tempo do primário,admissão,ginasial e científico – no Colégio Estadual de Minas Gerais, anexo Sagrada Família.
Na terceira série, estudei na ‘Terceira C’. Entre os meus colegas um se destacava. Só tirava nota alta, entre 9 e 10, sabia de tudo. Fera em Matemática, Inglês,Francês, Português, Física,Química. Pereba nos esportes. Tímido até não poder mais.

As provas eram bimestrais. Com trinta pontos a gente passava direto, sem prova final.
Eu recordo que esse meu colega precisou das notas do quarto bimestre apenas em Matemática e Francês. Passou em tudo,direto!(como se dizia no jargão escolar).

Na quarta série mudei de escola. Nunca mais tive notícias desse colega. Mas ele sempre foi o meu grande exemplo de estudante.

Lá nos meus 33 anos, depois de terminar o agora segundo grau via supletivo(com o apoio e o carinho da Edir Valadares, então diretora do CESU – Centro de Ensino Supletivo), encarei um vestibular e…passei!
Comemorações, adaptação com o ensino superior, ali estava eu  iniciando a minha graduação em Jornalismo na Fafi-BH.

Certo dia, entro no ônibus – meu karma – e quem é que eu vejo sentado na poltrona perto da porta traseira, depois da roleta(ainda se entrava pela porta de trás e a roleta ficava à direita de quem entrava)? O meu exemplo de estudante.

Ele se lembrava de mim, meu nome, os tempos de ginásio deixados num passado de… 16,17,19 anos? Não importava muito.

Diante dele, fiquei empolgado e contei que estava estudando Jornalismo, apesar dos 30 anos, dois filhos e tal e tal. Valorizei meu esforço, expus planos, metas. Havia traçado uma carreira de sucesso inquestionável. Mas, e ele, o estudante mais inteligente, mais brilhante que eu conhecia? O que era da vida dele?

Ele, sempre educado, estava um pouco mais soltinho, mais conversador. Tinha até um maço de cigarros no bolso. Pediu-me desculpas, levantou-se e avisou que ia descer dois pontos à frente. Apertou minha mão. Contou,rápido, que concluíra o curso científico e abandonara completamente os estudos. Não quis mais saber de nada que dissesse respeito a livros, sala de aula, provas. Nada!

E então?

Então ele me contou que era gerente de um depósito de material de construção naquela avenida mesmo. Agora entendia de areia,tijolo,cimento. Eu sabia qual. Garantiu que a vida estava ótima e que fora um prazer me reencontrar. Desejou-me felicidades e se foi.

Não o vi mais. Precisei de 21 anos para concluir minha graduação – incluindo um novo vestibular e um histórico escolar quilométrico – e aos 53 anos defendi minha dissertação de Mestrado.

Com a duplicação da avenida, o depósito onde o meu exemplo de estudante trabalhava foi demolido. Perdi a sua referência.

E, 24 anos  depois do meu reencontro com ele, espero revê-lo para saber como andam as nossas felicidades.

Fotografia de acervo

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

"É PROIBIDO PROIBIR"


Lá pelos anos 1960, as ruas de Praga, na então Tchecoslováquia, eram espaço de luta contra o stalinismo. Contra o racismo, as pessoas saíam pelas ruas dos Estados Unidos.Era o tempo da guerra do Vietnã, da morte de Guevara, da ditadura militar no Brasil.

Os estudantes franceses, sob a égide do “é proibido proibir”, esbravejavam pelo fim do conservadorismo. Essa brisa transformadora chegou ao Brasil e Caetano compôs “É proibido proibir” : (…) “Me dê um beijo meu amor/Eles estão nos esperando/Os automóveis ardem em chamas/Derrubar as prateleiras/As estantes, as estátuas/As vidraças, louças/Livros, sim…/E eu digo sim/E eu digo não ao não/E eu digo: É!/Proibido proibir/É proibido proibir/É proibido proibir/É proibido proibir/É proibido proibir”…
Estamos acostumados a navegar por mares de proibições e permissões. Por ondas transgressivas e marés repressivas. Ora é uma ‘nova onda no ar’; ora é ‘algo de podre no reino’ de qualquer Dinamarca.Pode isso, não pode aquilo. Com poesia e ternura. Sem verso e sem prosa.

Agora, a proibição mais recente pode vir lá da República do Malauí, no sudeste da África. O parlamento malauiense quer ressuscitar uma lei do tempo em que eles eram colônia e que proíbe que os cidadãos de Malauí soltem gases em público. É, a lei anti-pum . O pessoal vai ser obrigado a segurar a flatulência até chegar em casa.

Flatulência vem de Flato, do latim flatus. A palavra significa sopro. Popularmente conhecido como peido, esse sopro é uma composição de gases altamente variável, expelida pelo ânus. Essa composição variável inclui uma parte do ar que engolimos(nitrogênio e dióxido de carbono, uma vez que o nosso organismo absorve o oxigênio)  e os gases produzidos pelas  reações químicas entre ácido estomacal, fluidos intestinais e flora bacteriana(além do dióxido de carbono, o hidrogênio e o metano).

O odor dos puns decorre em função das quantidades de sulfeto de hidrogênio (gás sulfídrico) e enxofre livre. Quer dizer, quanto mais enxofre tiver os alimentos que a gente consome…. Quanto ao som, ele é  produzido pela vibração da abertura anal. Depende da velocidade de expulsão e do estreitamento da abertura dos músculos do esfíncter anal.

Tratado científico de lado, o governo de Malauí alega que “ tem o direito de manter a decência pública”, declarou o ministro da Justiça e de Assuntos Constitucionais, George Chaponda.Chaponda, conforme publicado emhttp://br.noticias.yahoo.com/s/afp/110204/mundo/malau___pol__tica_curiosaindaga se  ”por acaso querem que as pessoas soltem peidos em qualquer lugar?”Segundo o ministro, “agora e devido ao multipartidarismo e à liberdade, as pessoas se acham no direito de se soltar em qualquer lugar”.
O certo é que se a lei pega, abre uma oportunidade para os empreendedores de plantão comercializarem o porta-peidos , ou o filtro purificador de puns, ou o kit de soprinhos aromatizados.

Prefiro as ‘liberdades democráticas’ e o incentivo à ‘livre iniciativa’. “É proibido proibir” .

* A ilustração está em www.marialuizabarbosa.blogspot.com

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

DEPOIS DAQUI


Com o título traduzido de modo ‘oportunista’, aproveitando os resquícios da onda espiritista que passou pelo cinema e pela televisão, o filmeHEREAFTER , dirigido e produzido por Clint Eastwood, é uma dessas narrativas bem realizadas que vão direto ao assunto.

Clint quer falar sobre como é depois que morremos. Para isso, o roteirista Peter Morgan escreve uma história em que três pessoas tem relação distinta com a morte: George (Matt Damon), estadunidense, é um vidente desde a infância. Ganhou dinheiro com isso.Arrependeu-se e sente que não tem um dom. Que manter contato com a vida depois daqui é uma maldição; a jornalista francesa Marie (Cécile De France) que experimenta a “quase morte” durante um tsunami; e o menino inglês Marcus que sente a perda do irmão gêmeo e quer que ele volte.

Não é um filme espírita ou sobre o Espiritismo. Nem científico. É um filme sobre a vida, a morte, a fragilidade humana e sobre uma trama misteriosa que liga todos nós nesta circularidade prisional chamada Terra. É um drama, sem o dramático. O espectador é convidado a assistir uma história linear, sem surpresas – ainda que a sequência do tsunami seja surpreendente. O ritmo é o da vida, não o do cinema. As situações acontecem, as decisões são tomadas, as consequências são mostradas. Cada um escolhe o caminho a seguir. Não é um tratado, uma dissertação, um “por minha culpa, minha máxima culpa”.

A morte causa incômodos e mudanças. Pessoas ‘espertas’ tiram proveito disso.Pessoas dignas pesquisam o tema. Incautos existem aos montes. Estudos hilários e estudos sérios são realizados. A semelhança de relatos entre os que “morreram e ressuscitaram” é a principal evidência de que “tem alguma coisa do outro lado”, um “além da vida” na matéria.

Mais que isso, só interpretações, opiniões, teorias e crenças. Nem as ciências, nem as religiões – e nem o nosso oráculo moderno, o Google – tem respostas. O certo é que vamos morrer. E pronto!
Daí que Eastwood dirige com mão metódica um trabalho que sugere o seu direito de opinar; um comunicado de que ele sabe que, a qualquer momento, estará descobrindo o ‘depois daqui’. Um privilégio que não é exclusividade sua.

A gente se encontra lá!

A fotografia de ilustração está em www. celebridades.uol.com.br

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

DA VIDA E DA MORTE


O domingo prometia ser daqueles bem animados, ar de festa, de ver pessoas, reencontrar amigos.

Depois da leitura dos jornais, lá pelas 10 da manhã, fui até o churrasco de confraternização do “Amigos Peladeiros” convidado pelo Reginaldo, um dos organizadores e amigo já citado em outro texto. Risos, apresentações, uma carne e um um refrigerante.Sol rachando mamona.

Voltei para casa por volta das 12 horas.Garrafa de refrigerante sobre a mesa, computador e rádio ligados.Toca o celular.É o Leo Fontes, outro grande amigo e profissional de vídeo de primeira linha. Leo me conta da morte do Joaquim Santana., cinegrafista com quem trabalhei por muitos anos em produções para o SSV – Sistema Salesiano de Videocomunicação junto com Wandir Brandão, Geraldo Secundino, Antônio Machado, Sérgio Magalhães, Paulo Roberto Guimarães e Bernardo Santanna(apesar do sobrenome, sem parentesco com o Joaquim).

Notícias de morte, na melhor das hipóteses, incomodam. Da morte de amigos – no caso do Santana, uma amizade de 19 anos – dói. Não pela morte em si. Mas pela falta de oportunidade de estar mais perto dele, de conversar, de fazer planos. Protelamos os mais importantes compromissos em virtude dos infindáveis compromissos sem importância que viciamos em cumprir.

Morreu um amigo, um profissional emocionado, capaz de qualquer coisa em favor de alguém que lhe fosse querido. Bebemos ótimas cachaças, falamos de amores e desilusões, lemos Drummond. Captamos imagens do mundo como se quiséssemos montar o nosso próprio. A vida da gente é um quebra-cabeças sem um modelo para nos orientar na montagem. E deixamos de nos ver há pelo menos 5 anos.

Início da noite – que no horário de verão sempre nos engana – vou para a festa de aniversário do Nathan, “o presente de Deus” . O primogênito do Rômulo Breda e da Simone.

Rominho eu também conheci no SSV, na mesma época que o Joaquim. Era um editor que um dia confidenciou uma indecisão: se continuava como editor ou dava um ‘salto’.Como adoro o risco – em algumas situações,claro, pois não sou assim tão bobo quanto pareço – opinei que ele devia ‘saltar’. Hoje, além de profissional e diretor bem sucedido e reconhecido no mercado de vídeo, ele é o esposo da Simone e pai do Nathan. ‘Saltou’, mesmo! É um homem.

Na mesma festa Wandir Brandão,Vander Cláudio, Luciana Katahira, Davi Teodoro, Enerson e Paulinho. Amigos comuns meus, do Rômulo e do Joaquim. Durante algum tempo, o assunto foi a morte.

Aos poucos, mais relaxados, nos envolvemos com a música, as brincadeiras,os salgadinhos, refrigerantes e os docinhos. “Ah, os docinhos”, dirá o doutor Antônio Cícero ao ver meu próximo exame de glicose.
Hora do parabéns. Rominho, com a esposa e o filho, lembrou que ele e a Simone eram os arqueiros do filho.

O casal são arqueiros da vida. Nathan é o grande presente para todos nós, recém arremessado ao mundo. O mundo que eu e Joaquim tentamos montar. O sentimento de todos nós é de que a trajetória desse ‘presente de Deus’ seja a mais bela possível.

A trajetória de Joaquim Santana terminara na manhã do domingo. Agora, um outro arco o lançava para uma misteriosa trajetória. E nós também desejamos que seja a mais bela possível.

O melhor a fazer era comemorar. Se emocionar com os reencontros. Abraçar afetuosamente os outros. Amá-los ‘como se não houvesse amanhã’. Celebrar os acontecimentos mais importantes do ser humano: a vida e a morte.

Obrigado, Joaquim! Bem-vindo, Nathan!

* Fotografia de acervo

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

O TEMPO


Olho o tempo.

Não! Alguém dentro de mim olha por mim um tempo que eu não quero ver. Não querer.Sou só não querer. Não me quero! Não quero as explicações sobre mim.
Nada! Eu não quero a velhice.

Quando eu era pequena, aprendi que a coisa mais velha do mundo é o universo.
E o universo continua ali, todos os dias . E diariamente estou aqui. Sem astronomias ou relatividades. Sem astronomias o relatividades . Como eu não tenho a disciplina de observar mudanças, o infinito, com suas estrelas de guiar os anjos é o mesmo desde o dia que eu soube que ele era a primeira de todas as coisas.

Eu não! Eu ainda sou a mesma outra.A mesma sozinha, medrosa…Que tem medo do escuro e de engravidar. É, engravidar. Se Deus pariu o mais antigo que existe, porque eu não posso me engravidar de um caos e de outro e de outro, até o dia do juízo final?

Meu medo é que um bem-te-vi pie três vezes no telhado da minha casa e deixe lá os agouros da má sorte. Mas eu dizia que eu não quero a velhice porque eu não quero ser por muito tempo. Acho que é mais por cansaço. Ser cansa, me ocupa de obrigações. Se houvesse alguém que pudesse ser por mim, talvez…
pois é, se houvesse alguém que pudesse me pegar nos braços, me soprar de amor… aí sim, a luz se faria em mim e eu brotaria estrela pra encantar-me de sempre. E de sempre eu encheria a vida do meu amor de infinita alegria.

E daríamos cordas em nós mesmos e sairíamos pelo vento das ruas desvendando esquinas, experimentando copos, bebendo sereno, paixão, saliva. De sempre estrela, eu constelaria no olhar dele. E romperia a ordem inter-estelar de todos os meus medos e gritaria para o mundo: eu amo! Eu amo! Eu amo!

Mas eu não sei juntar as coisas para construir o meu sempre.Sou desconjuntada, desconexa, desfeita, desconfortável… eu sou des… humana! Ai, eu, lesma morta! Mosca de sopa! Dulcinéia sem romance, sem autor. Eu sem página. Eu que não conto.

No retrato, ele. Ele e o retrato guardado entre as minhas roupas. Meus segredos não respiram, meus segredos não têm força. Eu, não tenho força e escondo-me entre as minhas roupas. Sou vazio entre molduras. Sou fora do tempo.

Ah! O tempo! O tempo mesmo que eu não queira haverá de chegar. Imponente, rodeará meu corpo, lamberá minhas feridas, infeccionará minhas pequenas cicatrizes. E o meu corpo  que não exala nem seus próprios medos continuará aqui, cheio de perspectivas.

Eu sou apenas ressalvas, eu sou, apenas…

* Fotografia de acervo

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