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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

"APERTEI O BOTÃO DO"...

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“APERTEI O BOTÃO DO”…

Eu a conheci num festival de curtas, na sala Humberto Mauro do Palácio das Artes. Se não estou enganado, um curta meu, Caim e Abel, estrelado pelo Rodrigo Robleño e Daniel Barros, com produção e assistência de direção da Luciana Katahira, foi exibido naquele dia. Ela, de quem falo, agora, atuava num filme que não me lembro o nome, nem o diretor.

Ando esquecendo muitas coisas. Mas a atuação do Robleño e do Daniel, a produção e o encantamento da Katahira e os olhos da Fafá Rennó e sua interpretação estão memorizados ad infinitum .

É, estou escrevendo sobre a Fafá Rennó e o “Xô conta procê”, dirigido pela Fernanda Soares. Você pode assistir e, se apaixonando(duvido que não), inscrever-se no canal e marcar um “joinha”. O link é https://www.youtube.com/watch?v=R_N_AOZjgXM 

O olhar dessa moça de 35 anos, uma espécie de Maysa do século XXI que, sem perder a ironia, o sarcasmo, a fragilidade, o sozinho e o junto, o beijo e o escarro, o gole e a ressaca, o suspiro e o espirro, o pudor e o escracho, é a graça mais cortante, a surpresa mais deliciosamente sádica do Youtube.

Coisa fina!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

PEDRAS


"A PELEJA DO DIABO COM O DONO DO CÉU"


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“A PELEJA DO DIABO COM O DONO DO CÉU”

“Já que tudo depende da boa vontade/É de caridade que eu quero falar/Daquela esmola, da cuia tremendo/Ou me mato ou me rendo, é a lei natural/Há um muro de cal espirrado de sangue/De lama, de mangue, de rouge, e batom/O tom da conversa que ouço me criva/De setas e facas, e favos de mel/É a peleja do diabo com o dono do céu”.

A questão não é da grande, da média ou da pequena mídia. A questão não é dos brancos, dos negros,dos índios,do arco-íris. A questão não é dos jornalistas, dos políticos, dos garis, dos artesãos, dos poetas, dos “sem lenço e sem documento”. A nossa peleja é entre o “deus” e o “diabo” , entre o “céu” e o “inferno” interiores.

No filme “2001,uma odisseia no espaço”, o líder de um grupo de ancestrais do ser humano,depois de vencer o confronto sangrento com um bando rival, com o  uso de ossos como armas, bate com um desses ossos em outro. O impacto faz com que o osso atingido seja arremessado para o alto e o diretor do filme,de modo brilhante – e triste – faz uma fusão do osso arremessado para uma aeronave futurista prestes a pousar na lua.

Várias interpretações existem para esta transição. Escolho a que diz que,apesar dos avanços tecnológicos, a barbárie é cada vez mais presente na nossa vida. A modernidade não é sinônimo de civilidade. E se não há civilidade, prezado Zé Ramalho, como falar de caridade. Sem caridade não há boa vontade.Sem as duas,não há humanidade. Apenas uma guerra de ossos.Neste momento,uma guerra de “ossos de titânio”.

Mataram um índio de nome Vitor. Nome que lembra clássicos da literatura russa.Aculturamento da tal modernidade. Uma criança. Assim como mataram – e matarão – tantos outros indígenas, tantos outros brancos,negros,amarelos,pardos,vermelhos, petralhas e  coxinhas, esquerdistas e direitistas, padres,pastores,prostitutas,gays,crianças,mães,pais,namorados,poetas ,presidentes,militares,políticos,
jornalistas…

A questão não é o agendamento ou não do fato. Não é a pauta. Não é a manchete. Não é o editorial.  Não é o furo. Não é este texto escrito por um pai que tem um filho chamado Vitor. Não é a dor de uma mãe índia, a pietà da rodoviária. Faz muito tempo que os dias não são mais dos índios. E nenhum deles descerá “de uma estrela colorida, brilhante”. O indiozinho, como todas as crianças mortas pelo mundo, não era “impávido que nem Muhammad Ali”. Apenas,todos,meninos.

A questão é a desumanidade. É a bomba, com o detonador acionado, que carregamos dentro da gente. É a nossa peleja.Todos nós,com um osso na mão.

Foto:www.abacaxivoador.com.br

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

ANTES DO ALMOÇO

JUJUBAS

ANTES DO ALMOÇO

Subo a rua da Bahia, aqui em Belo Horizonte, em direção ao edifício Maletta, para pegar um pf com bife de fígado acebolado. Você sobe a rampa, é um boteco de porta única, o Lua Nova. O prato feito custa r$ 9,99 com direito ao cafezinho depois do banquete. Acompanha uma salada de tomate e alface.

No meio do caminho, nada de pedra. A poesia é outra. Um casal de idosos sai por detrás de um carrinho de pipoca. Em tempos bicudos, a diversificação é sinônimo de sobrevivência e, além da pipoca, doce ou salgada, oferta de pralinê, cigarro avulso, água mineral e jujubas. Dizem que uns até comercializam da preta e da branca para os chegados numa “cocada boa” ou na “erva do capeta”.

O casal vem descendo a rua e, de repente, para no meio do passeio. O senhorzinho estende a mão, os dedos recolhidos pela artrite ou artrose – eu matei a aula sobre o assunto – e aguarda a senhorinha que, dominadora – como toda mulher que se preza deve ser – abre o saquinho com as balinhas de goma e despeja algumas na mão do companheiro. Uma verde, uma amarela e duas vermelhas.

“Gosto mais das vermelhas”, ele diz e eu quase dou um tapinha nas costas dele e digo eu também.
A esposa, creio que ela seja, examina o saquinho e mostra que tem mais vermelhas.

“Aqui tem mais, viu?! Mas tão no fundo. Eu guardo pra você”, explica a senhora.

O marido, presumo, ri. “A gente divide” .

E dividindo a vida – e todas as jujubas do planeta – eles somam suas vontades.

sábado, 2 de janeiro de 2016

TIRADENTES-MG


A VITROLINHA

A vitrolinha

vitrolinha
A VITROLINHA

Ganhei, de Natal, uma vitrolinha. Quem me presenteou, passou dias de angustia e ansiedade tamanho o desejo de revelar qual era o mimo.

A coisinha é resultado dessa relação gostosa – mas nem sempre incentivada – entre a tecnologia, a modernidade e a nostalgia de lembrar de “um tempo que não volta mais”(que Friedrich Nietzsche me perdoe o escorregão).

Para os ‘antigos’ , a maquininha é um toca-discos parecido com aquelas vitrolas portáteis nas quais as tampas tinham, também, a função de alto-falante. No caso da minha, o mesmo vem embutido ao lado do potenciômetro de volume. Grosso modo, fechada, é uma espécie de maleta de transportar um flautim. Claro que acompanha um software que permite copiar os discos para dentro do computador e por aí vai.

A entrega do regalo foi rápida, ao ar livre. Não demorou mais que trinta minutos entre cumprimentos, abertura de embalagens e customização da tampa com adesivos de jazz, blues e despedidas na portaria.

Desde então, ela tomou posse da minha vida. Assumiu sua posição sobre a mesa de trabalho. Incentivou uma limpeza e novas audições dos vinis. E seu sonzinho sóbrio, ‘vitrolímpido’, misturado com o chiado saudosista trazem sonoridades que estavam guardadas na minha caixa de música da vida.

E em cada música, em cada chiadinho, em cada olhar meu para o aparelho eu ouço amor, eu vejo amor.

Assim, começo 2016. Eu, minha vitrolinha, e o amor. Uma melodia sem fim, vinil a vinil.

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