Lipovetsky afirma que vivemos um tempo hipermoderno, de hiperconsumo. Nessa vida superlativa, penso eu, acreditamos ser hiper-homens. Se hiper, que é mais que o super, a cada momento parece-nos mais inevitável a eternidade do que a morte. Ou que a morte é só para aqueles que não são hiper, ou que deixaram de seguir as normas, ou que as normas foram maiores que eles. Ou então, para lembrar Guimarães Rosa, a morte só acontece para aqueles que não são capazes de enfrentar o risco de viver. Os hiper-homens não morrem?
Morremos, hiper ou não. Questão de tempo que não é questão humana mas, outra vez o velho Rosa, “ o tempo é a vida da morte” , diz Riobaldo .
Penso que esta frase encontra uma outra semelhante contida no filme japonês “A partida” , Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro de 2009” . O roteiro é de Kundo Koyama e a direção de Yôjirô Takita, que, curiosamente, começou a carreira com os chamados 'pink films', ou seja, pornôs leves.
Se o filme tem falhas, e as tem (muito ocidentalizado, vai do drama ao dramalhão, traz muitos convencionalismos e um final previsível já na metade da exibição), também tem qualidades como as interpretações de Masahiro Motoki, no papel de Daigo e do veterano Tsutomu Yamazaki, no papel de mestre de Daigo. Contudo, o que mais incomoda é nos vermos diante da delicada tarefa de dar fim aos corpos de nossos mortos. E, neste instante, descobrirmos um ser vivo que não conhecíamos enquanto estava entre nós.
É evidente que a cultura oriental ( em especial a japonesa) tem uma relação ritualística com seus mortos diferente de nós, ocidentais. Mas mortos são mortos. E Daigo aprende com seu mestre a arte de preparar os corpos dos mortos para “ a partida”. Este é o aviso do filme, mesmo que os críticos não gostem dele( mas críticos são hiper!): vamos todos, um dia, realizar nossa partida. Inclusive os críticos de cinema.
Assim, “ o tempo é a vida da morte” e até que a nossa chegue, vamos seguindo na nossa performance canibal de matar e comer outros seres vivos, desde esperma de baiacu até o nosso semelhante( em sentido literal, ok?). Pois somos hiper( mas não somos críticos de cinema).
Vale muito assisti-lo.
Morremos, hiper ou não. Questão de tempo que não é questão humana mas, outra vez o velho Rosa, “ o tempo é a vida da morte” , diz Riobaldo .
Penso que esta frase encontra uma outra semelhante contida no filme japonês “A partida” , Oscar de “Melhor Filme Estrangeiro de 2009” . O roteiro é de Kundo Koyama e a direção de Yôjirô Takita, que, curiosamente, começou a carreira com os chamados 'pink films', ou seja, pornôs leves.
Se o filme tem falhas, e as tem (muito ocidentalizado, vai do drama ao dramalhão, traz muitos convencionalismos e um final previsível já na metade da exibição), também tem qualidades como as interpretações de Masahiro Motoki, no papel de Daigo e do veterano Tsutomu Yamazaki, no papel de mestre de Daigo. Contudo, o que mais incomoda é nos vermos diante da delicada tarefa de dar fim aos corpos de nossos mortos. E, neste instante, descobrirmos um ser vivo que não conhecíamos enquanto estava entre nós.
É evidente que a cultura oriental ( em especial a japonesa) tem uma relação ritualística com seus mortos diferente de nós, ocidentais. Mas mortos são mortos. E Daigo aprende com seu mestre a arte de preparar os corpos dos mortos para “ a partida”. Este é o aviso do filme, mesmo que os críticos não gostem dele( mas críticos são hiper!): vamos todos, um dia, realizar nossa partida. Inclusive os críticos de cinema.
Assim, “ o tempo é a vida da morte” e até que a nossa chegue, vamos seguindo na nossa performance canibal de matar e comer outros seres vivos, desde esperma de baiacu até o nosso semelhante( em sentido literal, ok?). Pois somos hiper( mas não somos críticos de cinema).
Vale muito assisti-lo.