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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

"AKI,KBÔ,TÁ?! BJUS"

Na sua coluna de quinta-feira(11 de novembro), no jornal Folha de São Paulo, Contardo Calligaris, com o título “ Despedidas virtuais” escreveu sobre términos de relacionamentos através da internet ou de torpedos via celular. Em forma de pergunta, esta questão fez parte de uma pesquisa realizada pela Nokia “sobre a relação dos brasileiros com as ferramentas sociais da era digital”. 15% dos entrevistados responderam sim.
Ao final de seu texto, escreve Calligaris: “ É bom tentar tudo o que der para que uma relação vingue. Quando ela não vinga(mais), é bom ousar se separar. E deveríamos agradecer os parceiros que nos mandam um SMS lacônico e brutal, “Valeu,beijão e sorte”. Pois, desprendendo-se, eles nos libertam e encurtam um processo no qual poderíamos perder anos da vida”.

Hoje, domingo, 14 de novembro, no jornal Hoje em Dia, Martha Medeiros trata do fim das relações amorosas, em “Contigo e sentigo”. Com a pergunta “ que tipo de final desejamos”?, ela afirma que “a maneira como se coloca o ponto final nas relações deixa evidente o verdadeiro espírito que norteou o que foi vivido”.

Começamos relações de afeto, de amor, de casal apaixonado com a perspectiva de que seja duradoura até que um parta desse para o além, desde que não seja o além-mar. Salvo aqueles encontros casuais que se alimentam mais pela voraz vontade de consumir-se a si e ao outro em tresloucada aventura de amor servida com sexo, droga e o ritmo musical que cada um prefira, relações de duas pessoas que se gostam devem durar para sempre. É?

O amor, como diz Vinicius, “que não seja imortal, posto que é chama/mas que seja infinito enquanto dure”, é um concerto de regência dupla com partituras ora límpidas e legíveis, ora riscadas e de sonoridade inaudível. Mas concerto.

Como concerto, sua escrita é cercada de ansiedades, palpitações, timidez, uns bons goles de bebida forte, páginas e páginas de poesia, lágrimas, flores, confissões, promessas, uma pitada de medo e, claro, sinais, sinais, sinais. Um sorriso, um carinho, uma brincadeirinha com segundas, terceiras, quartas intenções, uma cabeça aberta que compreende o outro acima de todas as coisas, um presentinho, uma companhia. Tudo tão lindo, tão romântico e civilizado. O melhor dos lugares-comuns. Vai que um dia a chama puft!

O concerto não tem mais conserto. Se a regência foi em dupla, a chance dos dois, depois do aplauso da platéia, se curvarem um para o outro em agradecimento é grande. Um final feliz, também apaixonante, onde cada um percebe que ofertou e recebeu do outro tudo o que de melhor tinha e queria. Mas esgotaram-se as fontes. Como o tempo não para, segundo Cazuza, cada um vai em busca de um novo abastecer. Costuma até se reencontrarem, mas não é o fio dessa conversa.

O normal é que as separações sejam previamente anunciadas pelo que há de pior: indiferença, crítica, egoísmo, tutela, desconfiança, ciúme doentio, traição. E a parte interessada em que tudo acabe, faz o jogo de gato e rato, forçando a barra. Na maioria das vezes, esperando que a parte que não quer acabe dizendo que quer. Aí, o covarde vira vítima e diz “já que você quer assim, tudo bem”. Ou então se deixa convencer de que tudo vai mudar. Segura a onda mais uns meses e, então,…

As relações afetivas quase sempre terminam com atitudes de covardia, ao contrário da valentia desenfreada no instante da corte e da conquista. Usar a internet ou o SMS é o modo mais prático de fugir ao olhar do outro que, também, ao invés de dar por encerrado o assunto, se predispõem a discutir a situação como uma tese de doutorado.

Separações lacônicas acontecem porque as relações para as partes – ou ambas as partes – chega ao limite da tolerância e, com certeza costumam ser melhores do que aquelas discussões improdutivas e, inevitavelmente agressivas ou dolorosas, que só servem para que sejam despejados os lixos acumulados.
Mas, ainda assim, se foi olhando nos olhos do outro e segurando-lhe as mãos que confessamos o amor, melhor seria se o mesmo acontecesse se esse amor deixou de durar.

Quem ama deve saber que o outro é um outro.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

ERRARE HUMANUM EST ?

Quantas vezes a gente não sente um frio na barriga por causa de uma atitude, uma indiferença, uma agressão verbal ou física – ou as duas . Enfim, quantas vezes aquele frio do arrependimento não faz doer as nossas entranhas. Não minta! Muitas, muitas vezes.

Até aqui, tudo bem. E dessas tantas friagens quantas você conseguiu “aquecer” com um pedido de desculpas, uma reconsideração, uma expiação? E, importante, com uma profunda revisão sobre os seus sentimentos e seus modos de se relacionar consigo e comigo, por exemplo? Não minta de novo! Poucas. Dar o braço a torcer causa luxação no orgulho.

Existem certos erros que cometemos que escapam à máxima de Sphronius Eusebius Hieronymus , São Jerônimo para os mais íntimos, de que errare humanum est. Tem coisas que a gente faz que dá uma vergonha tão grande, depois, capaz de remoer dentro do nosso juízo até o final dos tempos.
A dureza está em reconhecer esse erro e dar um jeito de se redimir dele. E não comete-lo mais. Nem outros, se possível. São Jerônimo também experimentou essa dificuldade. Como um dos “padres da Igreja” , como são conhecidos os teólogos nos primórdios do Cristianismo, Jerônimo era meio renitente. Reclama com Pammachius daqueles que fizeram críticas contundentes à sua tradução da Bíblia para o latim, a vulgata.
O tempo passa e pensamos que os erros e as suas consequências vão juntos. Não é uma questão de cronologia, é uma questão de carinho, amor, respeito e humildade. Bater à porta, ao coração, ao olhar, ao peito do outro e reconhecer que erramos vai doer mais que injeção contra tétano. Mas vai nos imunizar contra novas infecções e recuperar a saúde de relações estremecidas – até rompidas , em virtude de um estupidez, de uma incompreensão nossa.
Considerar o outro como parceiro e cúmplice nessa nossa misteriosa caminhada por este planeta-prisão ( a gente não pode voar, nem ir às profundezas abissais; se andarmos, em qualquer direção, vamos chegar aos ponto de onde partimos) é lembrar que nada sabemos. E jamais saberemos. Somos ignorantes e frágeis demais para magoar o outro. Em qualquer sentido.

Rachel de Queiroz- seu centenário de nascimento é amanhã, 17/11- em “Sempre o regresso” , crônica publicada no jornal Estado de Minas de 18 de junho de 1999, diz: “ A vida é mesmo difícil em toda parte do mundo, não é? Tem hora em que você se sente estrangeiro em casa, e em contrapartida se sente muito bem num canto onde nunca antes andou! Ah, os mistérios começam cedo. Quando eu tinha seis anos e meu pai me ensinou que a Terra era redonda, custava a dormir, impressionada com o perigo de despencar para fora – e aí? A gente sofre por saber e sofre por não saber, mas tem medo mesmo é da morte”.

Eu sofro por saber que cometi tantos erros e de poucos me desculpei. Quantas pessoas eu precisaria abraçar, ajoelhar aos pés e pedir perdão pelo que fiz ou falei. Tanta prepotência e tanta auto-suficiência.
Eu sofro por não saber se conseguirei me livrar desses constantes frios na barriga.

Dizem que o homem nasce,vive e morre com um vazio. Não tenho medo de morrer de morte. Tenho medo é de morrer por causa desses constantes esfriamentos.

Perdão!

A ILUSÃO DE VIVER

A leitura é um dos meus maiores prazeres. Agora dividida com a paixão pelos dois netos, Samuel e Gabriel. Tantas histórias li e  reli. Nos livros das inúmeras bibliotecas as quais tive e tenho acesso. Nos livros presenteados por meus pais, Seu Wantuil e Dona Filinha, pela minha avó, Dona Lica, pela Tia Lourdinha. E por amigos, por amores, pela amada. Nos livros que estão por todos os cantos da casa onde moro com minha  Lady, uma cadela da raça Labrador.

Reinações de Narizinho, Três escoteiros no rio Paraguai, As Brumas de Avalon, coisas sobre Woody Allen, escritos de Lya Luft, José Saramago, os clássicos, Vila dos Confins, Chapadão do Bugre, Cem anos de solidão, Pantaleão e as visitadoras, A menina morta, …Tantos, todos os dias e por todos os dias que espero sejam autorizados a vir.

Esses possíveis dias que  virão me remetem para a ilusão do viver. Vamos morrendo todos os dias. Cada minuto vivido corresponde a um minuto mais perto do fim. Portanto, sem pessimismo, nada melhor do que iludir-se e…viver.

Assim me parece ter sido o sentimento de uma menina, personagem de uma das tantas histórias que li. Neste caso, uma história de um livro que minha mãe comprou, creio, nas Lojas Americanas, lá se vão alguns muitos anos. Daí, a justificativa por não lembrar o título.

Pobre, a protagonista – e primogênita – na véspera de Natal sai pelas ruas geladas de sua cidade para vender caixas de fósforos coloridos. Esses fósforos que costumamos usar nas festas juninas. Vender essas caixas e levar algum dinheiro para amenizar, pelo menos por uma noite, a fome de sua mãe, viúva , e seus irmãos, é a grande tarefa da menina.

Contudo, ninguém se interessa pelos fósforos e muito menos pela criança. O frio aperta, volta a nevar. Por mais paradoxal que seja,  a personagem descobre que vai morrer congelada se não tomar uma providência. E toma. Não vai embora para casa. Acredita que venderá algumas caixas. Ao mesmo tempo, começa a riscar um fósforo de cada vez na expectativa de aquecer o corpinho frágil.

A cada fósforo riscado, a noite gelada recolhe-se momentaneamente no abraço de luz ora verde, ora vermelha, ora azul. que  tenta aquecer a menina. Mas, no instante seguinte, o frio escuro retorna, implacável. O rostinho da pobre criaturinha, a cada brilho, é um flash de esperança que, com a volta da noite, nubla-se de angústia.

Ela queima fósforo após fósforo e as respectivas caixas vazias. Por fim, o último fósforo, a última caixa e o frio sacando-lhe a vida.

Vivemos a ilusão da vida com as caixas de fósforo que recebemos. Primeiro, deixamos que sejam queimados por terceiros. Depois acreditamos que podemos queimá-los sozinhos. A seguir, os queimamos apenas para nós. Quando descobrimos que poderíamos fazê-los coletivamente, dividir com alguém, costuma ser tarde.

Na noite do egoísmo, do consumismo exacerbado, na falta de comunicação, no desamor, na usura e na ganância, no cerceamento da liberdade, na eliminação da palavra nossos fósforos se vão. E não é possível guardá-los pois  a ilusão de viver não pode ser para amanhã. A vida não pode ser guardada para uso posterior.

A vida é a chama colorida de cada fósforo de cada caixa.Não temos a menor ideia das quantidades. O máximo que podemos fazer é direcionar a sua luz ou aceitar a escuridão que faz a intermediação com próximo acender. Se esse houver.

domingo, 26 de dezembro de 2010

TOSTÃO 2

"Não dá para ser otimista quando vejo que, no bairro onde moro, há dezenas de restaurantes,bares,butiques e salões de beleza, mas não tem uma única livraria". TOSTÃO, em 'Não dá pra ser otimista" - Caderno de Esporte - Folha S.Paulo -26/12/2010

TOSTÃO 1

"Não dá para ser otimista quando vejo tantos maus cidadãos, travestidos de benfeitores da humanidade, principalmente na época de Natal. A filantropia é bem-vinda, mesmo se for para apagar a culpa, porém o Brasil precisa muito mais de bons cidadãos do que de caridade". TOSTÃO, em "Não dá para ser otimista" - Caderno Esporte - Folha de S.Paulo - 26/12/2010

sábado, 25 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL!

É Natal. Mesmo que a gente possa criticar a data, dizendo que é puro apelo comercial, jogada mercadológica para vender presentes - utéis ou não - no instante em que nos encontramos com um ente querido - e até mesmo com um quase desconhecido como o motorista e o trocador do ônibus, o policial, o dono da mercearia, o caixa do supermercado, o vizinho de apartamento - e lhe desejamos um "feliz natal", duvido que dentro dos nossos corações não acenda uma chama 'inexplicável'. Uma certeza de que se nossa alma não é pequena, o desejo de felicidade ao próximo não é mera quinquilharia. É a nossa maior riqueza que compartilhamos com ele.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

DEPOIS DA FESTA


Apesar de não ser a Gata Borralheira, saí da festa correndo, antes das onze da noite. Ficar no ponto de ônibus depois de certa hora, nem pensar. É pior do que beijo de bruxa. Para trás, lá no salão, ficaram pessoas queridas e amadas. Uma, 100% ciente desse amor e desse querer. As outras? Bem, às outras não foi possível dizer-lhes isso. E olha que venho tentando faz tempo. Mas , agora, na frente do teclado, lembro da fisionomia de cada um. E a vontade renasce explosiva. Como seria bom dizer isso pra eles: adoro vocês!

Acontece que tem aquelas badaladas, aquela noite madrasta...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

GRANDES CAMINHADAS

Ô, sô, esse trem de andar é o que há de melhor. A gente anda pra sonhar, a gente anda pra realizar, a gente anda pra amar, a gente anda pra viver. Enquanto a gente anda, a gente é. Junto aos amigos, junto ao amado, a amada, então, ih, é um colosso!

domingo, 19 de dezembro de 2010

DOMINGO

O domingo segue em frente, querendo ou não a nossa predisposição seja para a preguiça, seja para o algo a fazer. Domingo à tarde costuma ser engordurado, resto do frango do almoço. Costuma guardar aquela acidez do molho de tomate que coloriu a palidez da massa servida no banquete familiar.Com molho ou sem, vai-se o domingo.

O domingo no qual estou inserido, vai com aquela expectativa de que a ligação que eu espero não se concretizará. Ou talvez aconteça, mas num momento em que só nos restará dizer boa noite ao outro.

O domingo costuma ser a página  de  um álbum de retratos que, para não deixá-la vazia, preenchemos até com um vazio.Desde que bem fotografado.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

SILÊNCIO E CONTEMPLAÇÃO

Tem momentos - e atualmente são muitos - em que apenas queremos o som do silêncio ou das conversas da Natureza com a gente e com os outros seres vivos. A gente vira mato, vira água, vira vento. O silêncio se faz sustento daquilo de que minha alma tem fome: a paz entre todos, o carinho do amor, a humildade dos homens. Contemplar é um exercício díficil quando a gente descobre o significado da insignificância.

domingo, 12 de dezembro de 2010

PENSAMENTO DO DIA

Em casa de ferreiro todos são vacinados contra tétano.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Poesia me encanta. São como um remédio, antídoto contra o tédio que costuma rondar por aqui. Poesia é um atrevimento, um reclame das novidades velhas da vida. A poesia de Guido Heleno, que está na antologia OFÍCIO DO AGORA - com a seguinte dedicatória do poeta: " ...estes são poemas de um ofício de viver agora " . Março de 1988. Então que vivamos este nosso "ofício de viver".

ÚLTIMO ROTEIRO

Se eu morrer de enfarte
que seja noite, bem tarde
e tenha estrelas no céu
embora não possa vê-las.

Uma coruja romântica
piando um cântico antigo
para que eu leve comigo
lembranças de meus amores.

Quero flores bem diversas
em volta, muita conversa
e uma bandeira do time
que nunca foi campeão.

Quero milagres de peixes
tristes migalhas de pão
lágrimas coloridas
um arco-íris noturno
que só os pobres de espírito
possam vê-lo jorrando.

Mas se não morrer de repente
e de repente for ficando
quero estar vivo e vivendo
nunca,nunca vegetando
poder ler e escrever
andar em todo lugar
comer o que quiser
qualquer mulher, amar.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

MINHA ADÉLIA,POETA

Dia com poesia não tem preço. Com poesia de Adélia Prado, a minha poeta, então...


GÊNERO

Desde um tempo antigo até hoje,
quando um homem segura minha mão,
saltam duas lembranças guarnecendo
a secreta alegria do meu sangue:
a bacia da mulher é mais larga que a do homem,
em função da maternidade.
O Osvaldo Bonitão está pulando o muro da dona Gleides.
A primeira, eu tirei de um livro de anatomia,
a segunda, de um cochicho de Maria Vilma.
Oh! por tão pouco incendiava-me?
Eu sou feita de palha,
mulher que os gregos desprezariam?
Eu sou de barro e oca.
Eu sou barroca.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

COISAS DO TEMPO

A eternidade só nos atrai enquanto consumimos. No momento em que percebemos que o tempo nos consome, é a eternidade o que primeiro esquecemos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

GRANDES LETRAS, GRANDES CANÇÕES

Comigo tudo bem. Mas não dá pra ficar indiferente quando se ouve Nora Ney cantando NINGUÉM ME AMA, de autoria de Antônio Maria e Fernando Lobo:

Ninguém me ama
Ninguém me quer
Ninguém me chama de meu amor
A vida passa....
E eu sem ninguém.
E quem me abraça
Não me quer bem
 
Vim pela noite tão longa
de fracasso em fracasso
E hoje descrente  de tudo
Me resta o cansaço
Cansaço da vida
Cansaço de mim
Velhice chegando e
Eu chegando ao fim
(Bis)

AUSÊNCIA E POESIA

Da série poesias e poetas, esta de Bernardo Santanna. Linda.


Trem estrada ausente.
Trem estrada aos entes.
Tenho estrada ausente.
Tenho estado ausente.

sábado, 4 de dezembro de 2010

PRIMEIRO SÁBADO DE DEZEMBRO

Madrugada quente de sábado. Talvez chova. Se chover, vou dormir no ritmo das águas. Se não, continuo acordado no ensaio das lágrimas. É tempo de notícias duras. É tempo de revisões e mudanças.É tempo de
silenciamentos e mensagens sem resposta. É tempo...

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