Muitos críticos deitaram a lenha em Woody Allen pelo seu filme “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos”. Uns disseram que ele se repete; outros que ele deveria se aposentar; mais alguns que sua carreira acabou ao final dos anos 1990.
Allen não se repete, reconta o que assistimos todos os dias nesse cotidiano curioso que é viver. O repetido são os acasos, esse tal de destino, as coincidências, semelhanças, os seres humanos e seus valores e defeitos. O que repete é a morte.
A narrativa de Woody é uma crônica de seu próprio costume de ironizar todas as ansiedades e ambições humanas. É uma crônica de sua própria convicção de que ao fazer filmes está brincando com alguém e que há um outro alguém – ou uma outra coisa – brincando com os dois.
O cineasta e roteirista não se repete. O que repete é a sua necessidade de encontrar sentido para aquilo que ele percebe que não tem sentido, a vida , a partir do sentido que as pessoas querem dar para ela: sou eterno, então vou pegar tudo o que quero, depois vou amar os que me amam.
Allen transforma o dia a dia num festival de sortilégios ,sucessos e derrotas casuais. Com o talento de quem não se dá importância, ele produz filmes como as cartomantes lêem a sorte de quem as consulta.
Temos 50% a nosso favor, 50% contra, enquanto vivos. A morte tem 100%. Allen só reforça essa certeza. E avisa que devemos aproveitar os 50% que são por nós.
*a foto de ilustração está em www.adorocinema.com