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segunda-feira, 20 de junho de 2011

MEU PRIMOGÊNITO


Terça-feira, 30 de novembro. Ontem, dentro do ônibus conversava sobre crianças pequenas internadas e comentei com minha interlocutora sobre meu filho mais velho.

Ao chegar de viagem, a mãe dele me disse que o mesmo estava internado. Fomos ao hospital e lá, na enfermaria infantil, entre tantas caminhas, a dele. Deitado, bracinhos amarrados por causa do soro, o meu primogênito, o herdeiro, o presente divino.

Sem um plano de saúde naquela época, com pouca responsabilidade para muitas coisas na vida(ainda sou irresponsável com muitas delas), vi meu filho no meio de tantos filhos, todos sem a proteção dos pais, ainda que assistidos por enfermeiros e médicos.Na despedida, meu menino, sentado na cama, com os braços abertos e atados às grades do leito, chorava e dizia “papai”, “mamãe”.

Terça-feira, 30 de novembro. Mais uma vez, na minha ignorância e brutalidade, maltratei alguém, voltei para minha toca de ogro velho e irrecuperável. E entre um suspiro e outro de tristeza, arrependimento e solidão; entre a incapacidade de compreender as intenções dos outros e as minhas, toca o telefone celular: é o meu primogênito, agora com 34 anos.

A voz é alegre, não tem choro, não tem braços amarrados. Pergunta como vão as coisas, diz que com ele vai tudo bem e completa: “tenho uma notícia ótima para lhe dar”.Meu primogênito vai ser pai. Sem braços atados, sem choros e desamparo, ele, entusiasmado, repete que “é o herdeiro, é o herdeiro”.

Preparado para ser avô pela terceira vez, procuro dar orientações práticas, demonstrar que estou no controle da situação como se o filho fosse meu. Mas de certa forma é.Perguntas sobre como está a mãe, recomendações sobre pré-natal e plano de saúde.Planos de saúde são um mal necessário neste país onde a saúde pública é discurso, demagogia e assistencialismo. Eu digo que gosto do meu. Meu filho fala sobre um outro.O importante é que eles, meu filho, a minha nora e o meu (minha) neto(a) tenham tranquilidade também nesse quesito.

Agora, passada a emoção, qualquer que seja o plano de saúde escolhido será preciso que a escolha se oriente pelo amor. É preciso um plano de amor. Um amor que talvez me tenha faltado quando o meu primogênito ficou amarrado à cama, num final de semana, na enfermaria de um hospital.
Um amor que agora me sobra para não permitir que isso nunca mais aconteça.

Obrigado, meu heroi!

A ilustração está em www.bumsteadsbook.blogspot.com

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