Diz a letra da música que alguém sabe que vai amar a outra por toda a sua vida. Existem amores que serão eternos enquanto durar os amantes. E amantes eternamente amados durante a vigência do amor. Amar é perigoso e arriscado mas é o melhor lactobacilo ‘vivo’ do corpo e da alma.
Tem amores urgentes, tão urgentes que nem se percebe o parceiro, nem os parceiros se encontram. Você sacode a embalagem tetrapack e consome tudo em até três dias para não perder a validade.
Há os amores burocráticos, agendados com dias de antecedência e com uma ritualística mais para reunião de acionistas do que para uma cama com lençol de linho. Algo assim “vamos ao que interessa pois tenho muita coisa para fazer”. De pois de ‘amar’ , risca-se a atividade ou escreve-se ‘ok’ na agenda.
Amor de lesma é outro tipo. Muita contorção, esforço para se descobrir que avançou pouco. Melhor , que é tão sinuoso que desgasta, consome a energia de modo a cansar os moluscos gastrópodes ao final de uma jornada.
Os amores comuns, aqueles de declarações afetuosas, do ombro amigo, da cumplicidade, da mão na mão, dos passeios no final da tarde, do sono de ‘conchinha’, do café da manhã com fruta e música e olhos inchados de uma felicidade em andamento, de risos, de dormir até mais tarde, ah, estes amores parecem caricatura em tempos de “vai ser bom, não foi”?
Todas as vezes que eu vejo aquelas ‘mocinhas de gesso’ debruçadas nas janelas ou nas varandas, escorando o ‘rosto’ com as mãos, eu me pergunto quantos corações de gesso circulam pelas ruas loucos por voltar às suas ‘janelas’ e ‘ varandas’ e continuar assistindo a vida passar.
A vida que vai passando por entre as mãos que não se tocam, por entre os olhos que não se olham, por entre as bocas que não se encontram, pelas palavras que não ditas, pela esperança que não se confessa, pelo sonho que não se sonha.
Com certeza, isto não quer dizer amor.