Na varanda, atrás de altas grades de ferro com pontas afiadas feito espeto de churrasco, uma senhora, branquinha e muito magra, cabelos ralos e brancos, crocheta, ao que parece, um pano de mesa. E toma seu banho de sol, sentada em uma cadeira.
Ao seu lado, no piso de cerâmica, um canário belga engaiolado. A gaiola é velha e o passarinho, mais parecendo uma pelota de penas, não está muito disposto a firulas e cantorias. De vez em quando bica um bichinho pelo corpo. E toma seu banho de sol.
A senhora também não canta. Mas prende a linha nos pontos em cruz . À luz do sol, a linha vai desenhando uma outra coisa que se aprisiona. Que nasce presa.
A mulher, o passarinho, a linha e seu novo desenho, todos tomam o sol da manhã. O sol da manhã, da sua cela, abre pequenos caminhos até as almas do canário, da velhinha e do pano de mesa.
O esquentadinho enche todos de alegria. Mais liberdade que isso, causa-lhes preguiça, esforço desnecessário. Qualquer coisa, a senhora muda a cadeira de lugar, leva a gaiola junto. As grades, contudo, continuarão no mesmo lugar.