O
TEMPO NOS PARA
No
meio do meu caminho, tem uma praça. Na rotina do dia, ainda vale o
encantamento com a vida. Árvores, sombras e a certeza de que viver é
estar inserido dentro do circuito das imprevisibilidades – sem
falar em um café para incentivar tudo isto – fazem parte do meu
teatro diário.
Aí,
um encontro 'inesperado' . Ver uma 'paixão' dos primórdios do curso
superior descendo a rua. Um reencontro, trinta anos depois. O mesmo
sorriso e olhar, dela. Uma breve – e não revelada – lembrança
de uma tentativa de namoro, minha.
-
Você não mudou nada!
Mudei,
como mudei. Você é que, em um desses túneis do tempo que 'entramos'
por aí, não assistiu a minha “metamorfose ambulante”. Você
também mudou. Contudo, não sou capaz de cometer tamanha
indelicadeza.
Ela
segue sua trilha. Nem ao menos olho para trás. Daqui 30 anos, quem
sabe?!
E no
mantra 'caminhando a favor do vento, com lenço e documentos' surge
uma senhora e seu golden retriever . O bichinho se arrasta, empurrado
por um estoque mínimo de energia animal. Trocamos olhares.
- Tá
velhinho, né?! Ele tem uns 15 anos?
-
Tá! Tem 14 anos. Não dorme direito, tá perdendo pelo, tem
dificuldades em andar e eu tô com ele aqui pra ver se ele faz cocô.
Já fiz de tudo, mas ele tá com o intestino preguiçoso...
Aí
eu digo ao Cazuza que o tempo nos para.
Pensando
nos dois encontros, no remember romântico , no old dog, chego ao
local de trabalho e vou ao banheiro. Então, descubro que o fecho da
minha calça está aberto. Assim ele saiu comigo. Entrou no ônibus,
caminhou pelas ruas. Foi visto pela ex-paixão e daí o “não mudou
nada” quis dizer …? Foi visto pelo cão e este, lá no seu
interior canino, perguntou quem é o “velhinho",aqui?
É.
Quem é?