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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

FELIZ ANO NOVO!


Amanhã será o primeiro dia do ano de 2010. Em que ano será a nossa grande odisséia? Não aquela de 2001, do filme. Falo da grande jornada que deveremos empreender para aproveitarmos do melhor modo possível esse curto instante de viver aqui, neste planeta, ao lado de tanta gente, de tantos sonhos.

Cada vez mais egoístas, cada vez mais limitados em promover limitadas atitudes de afeição e carinho aos nossos cada vez mais limitados parentes próximos, estamos deixando o mundo lá fora. O mundo que entra dentro de nossas casas e de nossas vidas é outro.

Dificilmente falamos de poesia. Raramente contamos que amamos e somos amados. É mais compreensível discursar sobre novas tecnologias, a velocidade da nossa conexão na internet, a possibilidade de comprarmos isso e aquilo. Depois que a gente acreditou no discurso democrático que garante que todo homem comum pode ser um vencedor, a nossa primeira derrota foi desconsiderar o outro comum, como se não o fossemos.

Não nos vemos, não nos falamos, não nos ouvimos. Estamos sempre prometendo um encontro futuro, uma organização futura, uma mudança de hábito, uma mudança de vida.

Mas nem essa promessa tem muito valor pois estamos prometendo sem olhar nos olhos do outro. Prometemos para um ser no vazio. E no vazio nossa promessa se perde. Assim como nós, frutos da vaidade divina que, depois de criar todas as coisas, quis se superar gerando algo que fosse sua imagem e semelhança.

Sinceramente, não me pareço em nada com o divino.

Para mudar o tom, recebi de um amigo, Armando Bello, este poema de Drummond. Que este compartilhamento seja bem recebido por todos.

Receita de Ano Novo
Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

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