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sábado, 23 de outubro de 2010

PENSANDO BEM...

A crônica , a seguir, é do Nelson Mota e foi publicada no site www.sintoniafina.com.br. Bom de serviço e de cidadania,
Nelson é contundente neste texto.

NÓS E ELES

Quando um candidato vence uma eleição com 50% dos votos mais um, isto também significa que metade dos eleitores, menos um, votou contra o vencedor. Nesse caso, no Brasil, seriam cerca de 60 milhões de cada lado. Ao contrário das frias porcentagens, esses números são quentes e assustadores se vistos como homens e mulheres, suas vidas e seus destinos.

Mesmo quando a diferença final é maior, talvez por fatores regionais ou conjunturais, por acidentes de percurso ou fatalidades, os eventuais 0,01%, ou 10% de diferença não dão ao eleito mais poderes dos que a Constituição lhe garante. Tão importante quanto a democracia ser o governo do povo, para o povo e pelo povo, como os políticos gostam de dizer, mas não de fazer, é que a vontade da maioria prevaleça – respeitando os direitos da minoria e a Constituição. Se não, é chavismo.

Mas até Chávez sabe que nem sempre a maioria tem razão ou toma as melhores decisões, só por estar em maior número, mas as consequências são sofridas por todos. Maiorias não são infalíveis, condenaram Jesus Cristo e apoiaram Hitler, os maiores massacres da História foram de maiorias contra minorias, impondo a lei do mais forte sobre a civilização. Acima das maiorias, que são eventuais e sujeitas a interesses políticos e fraquezas humanas, estão as instituições democráticas, que são permanentes e impessoais.

Urna não é tribunal e a vontade da maioria não absolve ninguém de nada que afronte a lei e o estado de direito. Em campanhas acirradas e marcadas por ofensas e denúncias entre os adversários, suas histórias pessoais e seus aliados, o dia da vitória pode ser a véspera de confrontos que envenenam a democracia, movidos por paixões humanas. Como na Argentina.

A euforia rancorosa do “agora é nós” e as eventuais ameaças contra os vencidos têm um encontro marcado com a realidade da partilha do poder com os aliados e suas ambições políticas e pessoais - que pode até dar saudades dos adversários. Vença quem for, vitórias construídas com alianças espúrias, mentiras e trapaças têm vida curta e antecipam derrotas das melhores esperanças da população.

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