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sábado, 1 de janeiro de 2011

CHOVE LÁ FORA

Sexta-feira de Europa Central. Cinza. Chuvosa. Fria. Da janela do escritório – tem sempre uma janela nesses momentos – olho o lá na frente. Sinto falta de uma boa xícara de café. Ouço Ravel, Daphnis et Chloé, suíte número 2. Não sei se é chique ouvir Ravel às 9 horas de uma manhã que é quase noite. Melhor confessar que é triste.

A falta de uma boa xícara de café é circunstancial, posso bem providenciar uma. Claro que preciso dos ingredientes. Infelizmente falta o pó e o medo do gás acabar é muito maior do que a vontade de sentir aquele cheiro gostoso de café novo.

Posso pegar o telefone e ligar. Deixe-me pensar…para quem? Para falar sobre qual assunto? Ou só ouvir?
Talvez uma mensagem via celular: Ei,td bm ? O destinatário pode imaginar se eu não quero é que esteja  td ml .

Um e-mail,  óbvio, como não pensei nisso quatro parágrafos atrás?! Posso arriscar umas duas, três linhas. Pode chegar até 5 ou 6 se eu abrir a guarda e se quem vai recebê-lo seja muito íntimo, muito cúmplice. Daqueles que simplesmente entendem o seu desabafo, não se sentem co-responsáveis pelo seu estar de momento e se apresentam como uma potencial companhia para um café. Eu pago, respondem.

Chove lá fora, diz o refrão da música, e aqui dentro, por detrás de uma janela, luto para não admitir que está tão vazio. Contudo, preencher com alguma coisa me dá uma  certa preguiça. Chove lá fora e eu estou muito chato aqui dentro. Dentro do escritório, dentro de mim mesmo.

A chuva joga o jogo das intensidades. A vida também tem intensidades. Jogamos esse jogo com ela, cada um com sua estratégia, cada um sua sorte. É acertar ou errar.

A janela é, nessa manhã chuvosa e escura, ao som de Ravel – e não é o Bolero – um salão de danças. Que, como tudo,  me oferece duas alternativas já que estou aqui: ou chamo alguém para dançar ou fico sentado ouvindo a melodia até a hora de me levantar e voltar …

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