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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
ERRARE HUMANUN EST?
Quantas vezes a gente não sente um frio na barriga por causa de uma atitude, uma indiferença, uma agressão verbal ou física – ou as duas . Enfim, quantas vezes aquele frio do arrependimento não faz doer as nossas entranhas. Não minta! Muitas, muitas vezes.
Até aqui, tudo bem. E dessas tantas friagens quantas você conseguiu “aquecer” com um pedido de desculpas, uma reconsideração, uma expiação? E, importante, com uma profunda revisão sobre os seus sentimentos e seus modos de se relacionar consigo e comigo, por exemplo? Não minta de novo! Poucas. Dar o braço a torcer causa luxação no orgulho.
Existem certos erros que cometemos que escapam à máxima de Sphronius Eusebius Hieronymus , São Jerônimo para os mais íntimos, de que errare humanum est. Tem coisas que a gente faz que dá uma vergonha tão grande, depois, capaz de remoer dentro do nosso juízo até o final dos tempos.
A dureza está em reconhecer esse erro e dar um jeito de se redimir dele. E não comete-lo mais. Nem outros, se possível. São Jerônimo também experimentou essa dificuldade. Como um dos “padres da Igreja” , como são conhecidos os teólogos nos primórdios do Cristianismo, Jerônimo era meio renitente. Reclama com Pammachius daqueles que fizeram críticas contundentes à sua tradução da Bíblia para o latim, a vulgata.
O tempo passa e pensamos que os erros e as suas consequências vão juntos. Não é uma questão de cronologia, é uma questão de carinho, amor, respeito e humildade. Bater à porta, ao coração, ao olhar, ao peito do outro e reconhecer que erramos vai doer mais que injeção contra tétano. Mas vai nos imunizar contra novas infecções e recuperar a saúde de relações estremecidas – até rompidas , em virtude de um estupidez, de uma incompreensão nossa.
Considerar o outro como parceiro e cúmplice nessa nossa misteriosa caminhada por este planeta-prisão ( a gente não pode voar, nem ir às profundezas abissais; se andarmos, em qualquer direção, vamos chegar aos ponto de onde partimos) é lembrar que nada sabemos. E jamais saberemos. Somos ignorantes e frágeis demais para magoar o outro. Em qualquer sentido.
Rachel de Queiroz- seu centenário de nascimento é amanhã, 17/11- em “Sempre o regresso” , crônica publicada no jornal Estado de Minas de 18 de junho de 1999, diz: “ A vida é mesmo difícil em toda parte do mundo, não é? Tem hora em que você se sente estrangeiro em casa, e em contrapartida se sente muito bem num canto onde nunca antes andou! Ah, os mistérios começam cedo. Quando eu tinha seis anos e meu pai me ensinou que a Terra era redonda, custava a dormir, impressionada com o perigo de despencar para fora – e aí? A gente sofre por saber e sofre por não saber, mas tem medo mesmo é da morte”.
Eu sofro por saber que cometi tantos erros e de poucos me desculpei. Quantas pessoas eu precisaria abraçar, ajoelhar aos pés e pedir perdão pelo que fiz ou falei. Tanta prepotência e tanta auto-suficiência.
Eu sofro por não saber se conseguirei me livrar desses constantes frios na barriga. Dizem que o homem nasce,vive e morre com um vazio. Não tenho medo de morrer de morte. Tenho medo é de morrer por causa desses constantes esfriamentos.
Perdão!
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