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sexta-feira, 1 de abril de 2011

ESTAMOS AQUI


Viver ou passar pela Terra – a escolha é livre – nestes instantes da Humanidade em que não temos muito tempo para pensar nisto, faz tomar emprestado as palavras do psicólogo  Ives de la Taille  - no programa Café Filosófico exibido pela TV Horizonte, domingo, 21/11 – sobre como nós, viajantes contemporâneos,  encaramos essa “viagem”.

Na sua perspectiva existem dois tipos de viajantes: o peregrino e o turista. O peregrino faz sua caminhada com fé – é um ato de fé – onde ele dá valor ao percurso, ao que vai ver, ouvir durante sua trajetória. Já o turista se preocupa com o que vai ver, o que vai encontrar na chegada. Para ele importa o destino final. O primeiro, caminha. O segundo, corre.

Estamos em qual das categorias? Diz la Taille que na segunda, a dos turistas, pois vivemos de fragmentos, de colagens de fatos e acontecimentos. Trocamos o conhecimento pela informação. Dessa forma, adotamos uma vida que deixa de ser “o desenrolar do tempo” para uma “sequência de eventos”. Queremos saber “hoje é a semana de quem, de qual acontecimento”? Enfim, não nos damos mais a conhecer ao outro; apenas informamos que estamos na informação.

Yves comenta o fato de as pessoas manusearem constantemente os celulares. Quanta aflição pela falta de um chamado. Esqueceram de nós? O celular, antes ouvido, agora é olhado. Entendo que ele é a janela na qual tentamos nos debruçar para sermos vistos, a varinha mágica do “estamos aqui”. Por isso, hoje, é comum ouvirmos as pessoas dizerem que “não vi que você ligou”.

De volta ao pensamento do psicólogo, ele afirma que manuseamos freneticamente o celular pelo fato de que não conseguimos ficar sem ter o que fazer mas,  principalmente, para não experimentar a sensação de que fomos isolados, excluídos do todo. Por este motivo, se não nos ligam, digamos, num intervalo de 20, 30 minutos, para matar aquela sensação de que nada aconteceu, nem acontecemos,  damos um jeito de ligar e fazer acontecer: “Estou aqui, ok”?

Yves explica que a nossa relação social é a do “enxame, onde o que importa é o que está dentro dele, no miolo”. Não nos interessa “quem está do nosso lado, queremos continuar sendo importantes no enxame”. Ele aponta que “ temos medo da exclusão”.

Contudo, precisamos observar que essa necessidade de estar presente no coletivo se dá através dos aparatos e processos cada vez mais virtuais de comunicação, incluindo, óbvio, as redes sociais, espaços de debate e conversa, entre outros. No cabeça a cabeça, no frente a frente cada vez somos mais esquivos. Para o psicólogo, “ hoje não se namora, fica-se. As pessoas se casam – quando casam – cada vez mais tarde e se separam cada vez mais cedo”. Ao mesmo tempo, “temos medo da dor” , com atenção especial para a dor do outro. Yves acredita que “ investimos cada vez menos nas grandes – ou pequenas – realizações para a nossa vida com medo da dor que elas podem causar no outro”.

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