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quinta-feira, 3 de maio de 2012

FRAGMENTOS 4



Registrei o nome e olhar daquela menina dentro da minha vida. Ela era maior do que a tela do cine Estrela pois que eu via através de seus olhos um mundo que eu nunca imaginei que existia. Desandei a pastorear o meu amor sempre para perto dela. Se fosse o caso até aprenderia a costurar.
-         O Japão fica longe?
-         Fica. Meu pai diz que quando é dia aqui, é noite lá. Então deve ficar muito longe mesmo!
-         Eu já ouvi contar que se a gente furar um buraco em linha reta e atravessar a barriga da Terra, a gente chega ao Japão!
-         Acho que não…
-         Por que ?!
-         Ora, a Terra não roda em volta dela mesma ?!
-         Roda ?!
-         Claro que roda! Você não aprendeu na escola?!
-         É que no dia que a Dona Albertina deu essa aula, eu tava com dor de barriga e minha mãe mandou um bilhete pra ela avisando…
-         Ah…
-         Mas o que é que tem a Terra rodar? É só ir fazendo o furo no rumo da rodada dela!
-         Tá! Mas onde fica a barriga da Terra?!
-         Uai, um pouco pra baixo do coração dela, né!
-         É?! Então, tá! Me aponta o coração da Terra…
Eu peguei um pedaço de pau e risquei um círculo em volta dela.
-         Fica aqui! Encosta o ouvido e escuta…
Ela deitou o ouvido dentro do círculo. Eu também. Sussurrando, ela perguntou como eu podia saber que o coração da Terra estava ali.
-         Se eu fosse a Terra, eu deixava você pisar no meu coração.
Em silêncio, desenhamos carinhos dentro daquele círculo enquanto um outro, do qual a gente jamais teria idéia do tamanho, rodava em volta de si mesmo. Em silêncio, ouvíamos a vida vivendo dentro do mundo.

(Do livro ” A menina de olhinhos rasgados – Ed. Dimensão)

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