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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE MINÉRIO

Artifício criado pelo capital - que sempre privatiza o lucro e repassa o prejuízo(que nada mais é do que resultado da ganância desenfreada, da especulação e por aí vai), essa tal crise foi um achado para a Vale. Agora, através dessa "tragédia anunciada", vai promover seus ajustes e desajustes, à custa do sacrifício de milhares de trabalhadores. Em Itabira,Minas Gerais, berço ( e agora com encenação de "túmulo" da mineradora) a situação merece uma análise mais profunda. As representações sindicais não têm força - salvo a força do Paulinho , e estão querendo jogar a responsabilidade sobre o poder público. Aliás, é bom lembrar, o prefeito João Izael, reeleito para o mandato 2009/2012, vem agindo e decidindo com a lisura e a coragem que deve ter todo homem público que, antes de tudo é cidadão, pai de família e ...RESPONSÁVEL.

Mas toda essa escritura é para apresentar o artigo de jornalista Fernando Silva - será publicado no jornal Diário de Itabira de domingo, 21/12. Simples e elucidativo.Ponto Final.

O olho do furacão é aqui
Fernando Silva

As expressões que originam das bocas de João Izael, Paulo Soares e Ronaldo Magalhães, nesse momento, dão o que pensar. As expressões que se formam nos rostos dos três são sinais de intensas preocupações. E não é para menos.

Itabira está no olho do furacão da terrível crise econômica que assola o planeta, mais que qualquer outra cidade do Brasil. A terra de Drummond tem uma concorrente de peso internacional: a cidade norte-americana de Detroit, em Michigan, o paraíso planetário da indústria automobilística.

Na semana atrasada o governo federal, embora um pouco tardiamente, anunciou uma série de medidas para incrementar o crédito e incentivar o consumo. Houve uma resposta concreta e imediata em quase todas as partes do país.

Em Itabira, porém, o efeito prático da ação governamental foi quase nulo. E com razão. O trabalhador da Vale, o mais potencial consumidor dessas bandas, está jogando na retranca. Claro. O sujeito que se encontra com a corda no pescoço não mete as mãos nos bolsos. É uma atitude humana natural. O comércio não indica indícios de uma aceleração nas vendas típicas de finais de ano. A cidade tem tudo para entrar numa recessão particular, por meio de uma visível estagnação da atividade econômica.

Itabira já convive com a possibilidade de formação de dois tumores socioeconômicos com tendência a metástase: o desemprego em massa e uma acentuada queda na arrecadação da prefeitura. O primeiro é conseqüência da eterna dependência da atividade mineradora. O segundo também. Em suma, o quadro é de um mato- sem- cachorro. Não há solução em curto prazo para a encrenca. O funcionamento mais efetivo do campus avançado da Unifei- o torniquete para o sangramento provocado por essa monoeconomia- só apresentará os primeiros resultados dentro de três anos, aproximadamente. A Vale sinaliza com uma enxurrada de demissões, a partir dos primeiros meses do próximo ano.

O reflexo será instantâneo: algumas empresas prestadoras de serviços também tomarão medidas idênticas. A partir daí, vem o chamado efeito dominó. O trabalhador demitido, a princípio, arruma as malas e vai embora. Antes, porém, bota a empregada doméstica no olho da rua. Essa seqüência resulta numa bolha social bastante perigosa.

O outro “nó górdio” de Itabira é a arrecadação da administração pública. A mineradora anunciou uma retração de até 10% no seu índice de exportação. Em seguida, paralisou totalmente as atividades da usina de concentração do Cauê. Essa medida administrativa significa uma interrupção de até 50% na produção. Conseqüência: cerca 30 milhões de reais de impostos deixarão de entrar nos cofres da prefeitura, em 2009. Uma bomba. Hoje, a cidade tem um orçamento na casa de 200 milhões de reais. Desse valor, 40% já estão legalmente comprometidos com a Saúde e Educação. A folha de pagamento do funcionalismo público consome mais 33% desse montante. Restam, portanto, em torno de 25 milhões de reais para investimentos em obras e manutenção da estrutura de funcionamento da máquina administrativa.

Quer entender a dimensão do buraco? Retire os 30 milhões que a Vale não recolherá no próximo ano. Vai faltar “haver” e sobrar “dever”. É fácil, então, perceber o que acontecerá. Ainda bem que- aparentemente- Deus existe.

*PS: Com todo esse tsunami econômico, o presidente da Vale ainda acha tempo para brincadeiras. O executivo da mineradora propôs ao presidente Lula a suspensão temporária das Leis Trabalhistas. Caro Roger Agnelli, não se conta piada em cortejo fúnebre.

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