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segunda-feira, 13 de abril de 2009

WALTER BENJAMIN E AS CRIANÇAS

Trecho extraído do artigo "AS EXPERIÊNCIAS DE WALTER BENJAMIN” , de autoria da psicóloga Beatriz de Souza Bessa. Disponível em http://www.unirio.br/morpheusonline/numero09-2006/bessa.htm


"Não apenas os artistas e maltrapilhos, como também as crianças, seriam focos de resistência na modernidade, seriam como espadachins. Em Infância e Pensamento, Gagnebin escreveu sobre as crianças e a posição diferenciada que assumem diante dos adultos, onde elas vêem ''aquilo que o adulto não vê mais, os pobres que moram nos porões cujas janelas beiram as calçadas, ou as figuras menores nas bases das estátuas erigidas para os vencedores'' . É dessa dimensão que as crianças olham o mundo, marcando com suas perguntas as bordas, as falhas, o invisível, o inaudito. Benjamin, desde o texto Experiência, revelou a sua preocupação com os estudos sobre a criança. Criticava duramente o moralismo dos livros infantis e a forma infantilista do adulto se relacionar com a criança. Para o filósofo, “nada é mais ocioso que a tentativa febril de produzir objetos supostamente apropriados às crianças” . Alertava que os pedagogos não percebiam como a terra estava repleta de “substâncias puras e infalsificáveis capazes de despertar a atenção infantil” . Se observarmos uma criança, notaremos como ela se sente atraída pelos detritos: ao visitarem oficinas de costura, carpintaria, atividades de jardinagem elas não raramente vão vasculhar os restos, as sobras, os trapos... A partir dos detritos que recolhem, não imitam o mundo dos adultos, mas colocam os restos e resíduos em uma relação nova e original. Segundo o autor, os contos de fadas seriam uma dessas criações compostas por detritos, surgida no processo de produção e decadência da saga. “A criança lida com os elementos dos contos de fada de modo tão soberano e imparcial como com retalhos e tijolos. O mesmo ocorre com a canção e com a fábula” . Nesse sentido, se a atividade de narração se esvai nos tempos modernos, às crianças são cada vez mais destinadas canções folclóricas, estórias, contos e parlendas... A criança cria suas brincadeiras e seus prazeres a partir do “lixo da história”. Se a nossa modernidade já não nos permite mais compartilhar conselhos e experiências, as crianças, de alguma forma, ainda mantém laços com a tradição, com o povo, com a história".

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