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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

DE VOLTA AO MUNDO


Ano Novo, vida...Bem, a vida seguindo. Aquela sensação de barco navegando na incerteza. No filme “Sunshine” , de István Szabó, há uma frase que diz , mais ou menos, que não gostamos de ver tudo claramente e nem de nos mostrarmos claramente. Somos seres opacos num mundo que é e só é o que é – sem maiores subterfúgios ou explicações acadêmicas , mas onde cada um inventa sua própria realidade.

Assim, é a realidade que construímos para nossa vida a bússola que faz com que ela singre os mares do incerto. Estes mares do incerto são as realidades dos outros. Contudo, há momentos nessa navegação em que a nossa realidade depara com um vazio, com um desânimo, com uma falta de perspectiva, um desassossego, uma solidão, uma auto-condenação pelas nossas próprias deficiências, prepotências, leviandades.

Desculpas, várias. Basta recuperar a letra de Roda Viva, de Chico Buarque de Hollanda:

Tem dias que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá
Roda mundo, roda-gigante
Roda-moinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá
Roda mundo (etc.)

A roda da saia, a mulata
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá
Roda mundo (etc.)

O samba, a viola, a roseira
Um dia a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá
Roda mundo (etc.)

É, a vida navega, o mundo gira e a gente vai alimentando os furacões, os tornados ou as brisas, as ondas suaves. Tem críticos que dizem que, agora, todo mundo tem um blog e todo mundo quer falar. Não vejo nada de mal nisso, desde que não seja covarde o uso dessa forma de comunicação. Cada dia mais pessoas tem um computador e a tela do monitor se torna a janela de suas realidades. Uma espécie de parede da nova caverna para onde mais seres humanos estão transferindo suas emoções, suas verdades. A nossa vida está comprimida em 10,12,14 e tantas polegadas. Quando cansamos, a gente desliga a tela.

Cada vez mais fragmentados, somos capazes de construir e desconstruir a nós mesmos muitas vezes todos os dias. Vivemos em Control S ou Del .

Para o último suspiro, de novo Drummond e o seu “Consolo na praia” :

Vamos, não chores.
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.
O segundo amor passou.
O terceiro amor passou.
Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.
Não tentaste qualquer viagem.
Não possuis carro, navio, terra.
Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,
em voz mansa, te golpearam.
Nunca, nunca cicatrizam.
Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.
À sombra do mundo errado
murmuraste um protesto tímido.
Mas virão outros.

Tudo somado, devias
precipitar-te, de vez, nas águas.
Estás nu na areia, no vento...
Dorme, meu filho.

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