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sábado, 22 de maio de 2010

ANOTAÇÕES SOBRE A MORTE 1


Nestes tempos de projeções,previsões e palpites, calculo que, aos quase 54 anos, tenho um saldo, digamos de uns 20 anos de vida. Mas se houver juros,correção e outros atrativos, eu deva fazer jus a uns 25 anos, ainda. 79...80, vá lá! Epa, vá lá remete para "vala" e vala lembra cova que é sepultura que é pra onde este corpo um dia vai.

Já que o tema resolveu me visitar neste sábado, antes que eu coma uma feijoada que está no congelador desde o sábado passado(creio que não vou morrer por isso), segue alguns escritos sobre "o derradeiro".

A Morte

Cercados de possibilidades e perspectivas, de impossibilidades e insucessos por todos os lados, arremessados ao desafio ou reprimidos nos pequenos desejos, ricos ou pobres, intelectuais de academia ou aprendizes da sabedoria humana, brancos, negros, asiáticos, qualquer que seja a nossa circunstância, a nossa categoria, a nossa posição no desenho sócio-cultural ao qual estamos inseridos, de forma inapelável vamos todos morrer em um certo ano,mês, hora, minuto, segundo por diversos motivos. Rodrigues (2006) afirma que existem diferentes formas de morrer: “morte morrida”, morte por “velhice”, morte “matada”, morte “violenta” e que todas, cada uma a seu modo, instiga atitudes emocionais particulares em cada um dos que ainda sobrevivem.

Ainda que a morte possa se apresentar de diversas maneiras – e mesmo que pudéssemos escolher a mais tranqüila como, por exemplo, dormir e morrer, para essa interrupção, por mais explicações e teorias que se produzam na academia ou nos templos e nas ruas, não há uma resposta. Existe, apenas, conforme Rodrigues(2006), uma tentativa de fechar a angústia da morte dentro de um discurso e de localizar o pensamento sobre ela em um lugar seguro dentro da sociedade e fora de nós.

Prado(2008) afirma que nascemos para a vida e que ninguém quer, verdadeiramente, morrer. Nem mesmo as pessoas que pedem a morte, quando o fazem é porque “têm uma vida ruim e queriam uma melhor” (PRADO,2008, p.5).

A morte fixa, determina, marca, assinala o fim incondicional, incontestável, absoluto de qualquer coisa positiva: um ser humano, um animal, uma planta, uma amizade, uma aliança, a paz, uma época. Não se fala na morte de uma tempestade , mas na morte de um dia belo, apontam Chevalier e Gheerbrant (1999).

Contudo, a morte é também a porta de entrada para os mistérios do desconhecido, para os Infernos e Paraísos, “e que revela a sua ambivalência, como a da terra, e a aproxima, de certa forma, dos ritos de passagem.Ela é revelação e introdução” (CHEVALIER;GHEERBRANT ,1999,p.621).

Nos estudos da simbologia da morte é determinante o fato de que qualquer iniciação passa, necessariamente por uma espécie de fase de morte como primeiro passo de ingresso a uma vida nova. A purificação do homem que opta por uma reformulação material e espiritual requer, anteriormente, que ele elimine tudo o que traz de negativo, de prejudicial, impuro, maléfico, pecaminoso. É preciso que ele “morra” e “nasça” outro.

O homem experimenta diversas mortes simbólicas na sua trajetória. A morte do pai é um exemplo (há ainda a “morte da família” quando se deixa o lar paterno, as mortes da infância, da adolescência, entre outras), a partir da abordagem freudiana da história de Édipo Rei, escrita por Sófocles, “em que o pai ocupa o lugar de terceiro na relação da mãe com o filho e que impossibilita a completude da criança”(HARTMANN, 2006,p.4).

Nesse sentido, a morte tem uma atuação marcante, ela tem um mérito inerente, interior sobre os estados e disposições psíquicas de idéias de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos: é aquela que torna livre o indivíduo das influências negativas e recupera, nele, toda a energia positiva do espírito.

Chevalier e Gheerbrant(1999) ponderam que se a morte, por si mesma, é filha da noite e irmã do sono, então ela teria, como sua mãe e seu irmão, a capacidade de revivificar, de reconstituir o que foi destruído. Assim, se o ser que ela mata é materialista e vive na bestialidade, seu caminho pós-vida é a sombra dos Infernos. Ao contrário, se experimenta e vivencia o crescimento moral, a elevação e fortalecimento do espírito, a morte descortinaria para ele os campos de luz. Eles apontam para o fato de que os místicos, em concordância com médicos e psicólogos, perceberam a coexistência da morte e da vida em todas as fases do existir do ser humano, o que significaria um tensionamento contínuo entre duas forças antagônicas e, ao mesmo tempo sugere que a morte em um nível possa ser o estado de uma vida superior em outro nível. É por isso que, no Tarô, a Morte , o esqueleto armado de foice, o arcano maior número 13, está associada à renovação e ao nascimento. Na perspectiva esotérica, é a mudança profunda pela qual passam os seres humanos sob o efeito da Iniciação. Wirt citado por Chevalier e Gheerbrant(1999,p.622), explica que “o profano deve morrer para que renasça à vida superior conferida pela Iniciação”.

Ainda que simbologicamente libertadora, via de transição de um estado de ser para outro, a morte é um enigma que a inteligência humana é incapaz de explicar ou compreender. Assim, ela alimenta os sentimentos mais angustiantes e as figurações mais tenebrosas. É levada ao máximo, a resistência à mudança e a uma forma de existência desconhecida, mais do que o medo de uma absorção pelo nada,conforme Chevalier e Gheerbrant(1999).

Por isso, na percepção de Prado (2008), “a finitude é um tormento assim como o tempo, pois, apesar de sermos finitos, nós intuímos e desejamos o infinito, a vida eterna, que não se acaba, a felicidade, saúde, alegria, beleza”(PRADO,2008,p.5). Nesta reflexão, o não querer tudo isso expressaria que a vida não teria significado.

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