Qual é o seu lixo?
QUAL É O SEU LIXO?
As duas mocinhas, carinhas de candidatas a modelo e branquinhas, sentadas lá no fundo do lotação, conversam o domingo enquanto lancham. Uma, a do canto, come um pão de queijo, retirado de dentro de um saco de papel e bebe um achocolatado. A outra, a da beirada, que me olha com cara de maus bofes, bebe um suco de frutas.
O diálogo, entre uma mastigada e uma sugada, gira ao redor de namoro, namorado, coisas do tipo ” e ele sai de cueca pela casa”, “eu tô bem, você tá bem? então tudo bem”, e um “eu te amo” enviado numa mensagem de celular.
As jovens trabalham na mesma empresa. Vestem o mesmo uniforme. Blusa azul escuro com detalhe em vermelho na gola e nas mangas. E rosinhas aplicadas, três na gola, uma em cada manga. Simetria oriental. “Do lado esquerdo do peito”, mas não “dentro do coração” lê-se o nome da organização para a qual as jovens prestam serviço: “Stilo”.
A discussão agora é sobre as tais declarações de “eu te amo”. A do corredor adora quando o namorado diz que a ama. A do lado, irritada, talvez por não ter um namorado ou por ele não fazer declarações de amor, acredita que é preciso “tomar cuidado” com esses excessos, “nem sempre dá pra confiar”.
Aí, acaba o lanche. A irritada coloca a embalagem do achocolatado dentro do saco de papel e segura. A amiga enfia a embalagem do suco dentro de uma repartição da bolsa. Até que numa curva, a primeira lança pela janela o saco de papel e a caixinha do achocolatado. Gesto que é repetido pela companheira de trabalho.
Depois, jogam os cabelos para trás e apoiam as cabeças no encosto acolchoado. Merecido cochilo. Sem estilo. E sem educação.
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