Verbos
VERBOS
Nestes tempos em que oferecer uma flor como sinal de que amamos o outro é pura precipitação e dizer “eu te amo” é um tremendo mico, as lágrimas delas estavam mais para um dramalhão mexicano do que para uma constatação dolorosa: estava sozinha e sentia, urgentemente, a necessidade de alguém que a tomasse nos braços e disse “meu amor”.
O “não” , trinta anos antes, a desobrigou de um casamento e deu-lhe as senhas da vida livre e independente. Ao mesmo tempo, permitiu que vivesse outros relacionamentos e que se decepcionasse com eles. Até decepcionar-se consigo mesma e ensurdecer o coração para as tantas vozes da paixão.
Agora, no momento em que a simplicidade é o maior bem, em que o valor da vida alcança sua melhor cotação, quer apenas um ombro amigo, a mão afetuosa que tomara a sua, a companhia que passeará com ela pela praça, que observará com ela as estrelas, que acalentará seu sono de sossego.
Enquanto o amado não chega, “impávido que nem Muhammad Ali” , suas lágrimas são uma espécie de lição gramatical em que se aprende que viver é um verbo sem conjugação no passado, nem no futuro.
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