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domingo, 31 de julho de 2011

PROFESSORES




Saber dar aula não quer dizer aula sobre determinado assunto, saber ensinar não se traduz em ensinar uma certa matéria. Enfim, não são essas, a meu ver, as maiores competências – ou as obrigações – de um professor.

Ser um maestro é cumprir a função de poeta fazedor de milagres. Fazedor que não “finge a dor que deveras sente” pela ansiedade e a paixão em querer nos conduzir por um caminho que ele espera seja bom para seus aprendizes.

É preciso ser humilde e sábio para conviver com a ignorância não no sentido pejorativo, ofensivo. Mas com a ignorância conforme sua etmologia: a do desconhecer, do ignorar. É indispensável que, para isso, saiba trabalhar com sensibilidade o método de Sócrates de multiplicar perguntas, orientando o inquirido a encontrar as suas verdades, as verdades comuns e os conceitos gerais dos objetos. Quer dizer, tem que ser bom em maiêutica.

Sem arrogância, prepotência, indiferença ou descaso deve ser talentoso em entender que cada ser humano é diverso e diferente. Palavras sinônimas que costumam ser praticadas antonimamente.

Assim, dividindo dúvidas, reunindo raciocínios , guardador temporário de um rebanho de almas em desenvolvimento, será capaz de difundir o amor pelo estudo sem transformá-lo num sacramento. Sem transformar-se num sacerdote. Abandonando a idéia de sacerdócio para que o espaço do saber não seja um altar de sacrifícios e sim um lugar de profanação no sentido de se esquartejar verdades, de incendiar reflexões, de incensar perspectivas.

Os meus melhores professores foram e são os que jamais apontaram a minha insignificância diante das maciças cordilheiras e montanhas da genialidade universal. Foram e são os que preparam essas genialidades para receberem as minhas próprias grandezas.

São todos os que, com calma e cumplicidade, esperaram e esperam que eu tenha certeza dessas grandezas. E consciência do que posso, e devo, fazer com elas.

*A ilustração está em www.laboratoriodeinformaticadoalvorada.blogspot.co

segunda-feira, 25 de julho de 2011

AMIGOS


Sou privilegiado pelos amigos que tenho. São muitos. E não me importa se a recíproca não seja verdadeira. Eu escolhi essas pessoas para a minha lista de amizades. Trato-as – e lhes amo – então, como seres apaixonantes.

Tem aqueles que escrevem gentilezas, os que disponibilizam generosidades, os que ofertam o ombro, os que estendem a mão, os que riem, os que choram, os que me entendem, os que não entendem e dizem que não entendem. Os que não fogem de jeito nenhum e os que fogem mais são corajosos e admitem que fugiram e fugirão outras vezes.

Tem os que nos convidam para assistir um jogo de futebol em Sete Lagoas e trazem um outro que vai ampliar a minha lista. A gente vai e vem falando de tudo, falando de livros, de cinema, traçando planos. O meu amigo, ao volante, – tenho certeza – não me abandonará.

Tem os que estamos devendo mas que continuam prontos a nos ajudar pois sabem que eu preciso dessa ajuda.

Outros se encontram comigo, tomamos um café, comentamos viagens, tropeços e satisfações de viajantes, livros antigos, o show do Paul McCartney, do Peter Frampton, a volta não concretizada do Pink Floyd, o “ dark side of the moon”. A tarde segue de acordo com a regência de uma conversa que jamais será interrompida.
Todos, por lembranças, presenças, trabalhos, estudos, vadiagem, apoios, gostos comuns e incomuns são indispensáveis para que eu acredite que o ser humano, o ridículo de Deus, vale a pena.

“Podemos ser amigos, simplesmente/Amigos simplesmente/Nada mais”. E precisa?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

SERÁ QUE EU POSSO?


Será que eu posso escrever sobre você? Escrever o quanto a sua presença em minha vida é fundamental para que eu possa organizar o caos diário, priorizar os sonhos, agendar as soluções, abrir todas as janelas da casa, fazer a lista do supermercado, chorar de emoção depois de reler Cien años de soledad , dar banho na minha Lady – uma ‘mulher’ que adora deitar-se aos meus pés?

Será que eu posso contar sobre você? Contar dos planos, das ansiedades e angústias, das competências e dificuldades, das vontades, das antigas e novas viagens, as histórias curiosas, engraçadas, tragicômicas – e que sejam sempre mais cômicas do que trágicas?

Será que eu posso informar a sua idade? Informar que é preciso sigilo neste quesito não por causa da vaidade, mas pela sua capacidade de me oferecer do tempo o que de melhor ele tem.

Será que eu posso falar de você? Falar da sua amizade de cachorro velho, da sua cumplicidade, da sua paciência, da sua tolerância, do seu talento para viver o mundo, dos seus conselhos, das suas críticas, da sua solidariedade, dos seus valores, das suas responsabilidades …e irresponsabilidades?

Será que eu posso confessar que você também não é perfeita…ou perfeito?

Será que eu posso mostrar você? Mostrar o seu sorriso infantil, a sua cara feia, as unhas do Wolverine, as mãos de passarinho, o olhar para a frente, o sono agitado, o sonho de anjo, a sua desorganização, a sua ordem, a sua força?

Será que eu posso repetir Caetano e afirmar que “essa canção é só pra dizer, e diz”?

Será que eu posso admitir que eu só quero ser você, por você, para você? Admitir o quanto amo?
E você, sabe a quem me refiro?A você, evidentemente!

segunda-feira, 11 de julho de 2011

ME DÊ MOTIVOS


Dez da noite, avenida Paraná, Belo Horizonte voltando para casa. Os pontos de ônibus lotados. Donos de empresas e gerentes puxa-saco dos órgãos fiscalizadores do transporte metropolitano não estão “nem aí” para essa volta. Nem para a vinda de amanhã.

Belo Horizonte vem da aula, do trabalho, dos botequins, da rodoviária, da rotina comum que vai se repetir no dia seguinte. Uma garoa sem propósito é mais incômoda do que poética.

Na sacada de um edifício, um homem, um copo de cerveja e um som esguelado e distorcido. Debruçado no parapeito, ele observa. De lá de dentro, Tim Maia pede motivos para ir embora. Para onde quer ir Tim Maia se os motivos lhe forem dados? E o homem na sacada, qual a sua rota de fuga se os motivos não servirem para Tim mas para ele?

Quais os motivos que estamos querendo? Quais os motivos oferecemos diariamente na banca da vida para tocarmos o nosso viver e o viver dos que habitam em nossas proximidades? Também experimentamos a incerteza entre ir e ficar?Pode ser que o homem da sacada esteja procurando alguém que está “indo embora” não para casa, mas de alguma coisa que já não dá mais conta. Ou então, para uma em que tem certeza de que é capaz de levar.

A voz do intérprete desse momento de procura e indecisão parece chamar a atenção de todos. Contudo, estamos tão “cansados”, tão incapazes de decidir algo maior do que escolher uma boa cadeira no ônibus – que esperamos venha com lugares vazios . Preferencialmente uma cadeira “na janela” onde possamos encostar a cabeça no vidro e deixar que ele separe os nossos motivos dos que estão do lado de fora. Me dê motivos para não viver separado dos outros…

Pedir motivos, dar motivos, ser motivos. Na sacada, o homem não encontrou motivos para oferecer um copo de cerveja gelada às pessoas. Nem as pessoas lhe deram motivos para isso. Tim Maia terminou de cantar e na melodia seguinte já queria chocolate. Vai entender, hein?!

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