Powered By Blogger

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

"A PELEJA DO DIABO COM O DONO DO CÉU"


2001-1

“A PELEJA DO DIABO COM O DONO DO CÉU”

“Já que tudo depende da boa vontade/É de caridade que eu quero falar/Daquela esmola, da cuia tremendo/Ou me mato ou me rendo, é a lei natural/Há um muro de cal espirrado de sangue/De lama, de mangue, de rouge, e batom/O tom da conversa que ouço me criva/De setas e facas, e favos de mel/É a peleja do diabo com o dono do céu”.

A questão não é da grande, da média ou da pequena mídia. A questão não é dos brancos, dos negros,dos índios,do arco-íris. A questão não é dos jornalistas, dos políticos, dos garis, dos artesãos, dos poetas, dos “sem lenço e sem documento”. A nossa peleja é entre o “deus” e o “diabo” , entre o “céu” e o “inferno” interiores.

No filme “2001,uma odisseia no espaço”, o líder de um grupo de ancestrais do ser humano,depois de vencer o confronto sangrento com um bando rival, com o  uso de ossos como armas, bate com um desses ossos em outro. O impacto faz com que o osso atingido seja arremessado para o alto e o diretor do filme,de modo brilhante – e triste – faz uma fusão do osso arremessado para uma aeronave futurista prestes a pousar na lua.

Várias interpretações existem para esta transição. Escolho a que diz que,apesar dos avanços tecnológicos, a barbárie é cada vez mais presente na nossa vida. A modernidade não é sinônimo de civilidade. E se não há civilidade, prezado Zé Ramalho, como falar de caridade. Sem caridade não há boa vontade.Sem as duas,não há humanidade. Apenas uma guerra de ossos.Neste momento,uma guerra de “ossos de titânio”.

Mataram um índio de nome Vitor. Nome que lembra clássicos da literatura russa.Aculturamento da tal modernidade. Uma criança. Assim como mataram – e matarão – tantos outros indígenas, tantos outros brancos,negros,amarelos,pardos,vermelhos, petralhas e  coxinhas, esquerdistas e direitistas, padres,pastores,prostitutas,gays,crianças,mães,pais,namorados,poetas ,presidentes,militares,políticos,
jornalistas…

A questão não é o agendamento ou não do fato. Não é a pauta. Não é a manchete. Não é o editorial.  Não é o furo. Não é este texto escrito por um pai que tem um filho chamado Vitor. Não é a dor de uma mãe índia, a pietà da rodoviária. Faz muito tempo que os dias não são mais dos índios. E nenhum deles descerá “de uma estrela colorida, brilhante”. O indiozinho, como todas as crianças mortas pelo mundo, não era “impávido que nem Muhammad Ali”. Apenas,todos,meninos.

A questão é a desumanidade. É a bomba, com o detonador acionado, que carregamos dentro da gente. É a nossa peleja.Todos nós,com um osso na mão.

Foto:www.abacaxivoador.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog