ANTES DO ALMOÇO
Subo a rua da Bahia, aqui em Belo Horizonte, em direção ao edifício
Maletta, para pegar um pf com bife de fígado acebolado. Você sobe a
rampa, é um boteco de porta única, o Lua Nova. O prato feito custa r$
9,99 com direito ao cafezinho depois do banquete. Acompanha uma salada
de tomate e alface.
No meio do caminho, nada de pedra. A poesia é outra. Um casal de idosos
sai por detrás de um carrinho de pipoca. Em tempos bicudos, a
diversificação é sinônimo de sobrevivência e, além da pipoca, doce ou
salgada, oferta de pralinê, cigarro avulso, água mineral e jujubas.
Dizem que uns até comercializam da preta e da branca para os chegados
numa “cocada boa” ou na “erva do capeta”.
O casal vem descendo a rua e, de repente, para no meio do passeio. O
senhorzinho estende a mão, os dedos recolhidos pela artrite ou artrose –
eu matei a aula sobre o assunto – e aguarda a senhorinha que,
dominadora – como toda mulher que se preza deve ser – abre o saquinho
com as balinhas de goma e despeja algumas na mão do companheiro. Uma
verde, uma amarela e duas vermelhas.
“Gosto mais das vermelhas”, ele diz e eu quase dou um tapinha nas costas dele e digo eu também.
A esposa, creio que ela seja, examina o saquinho e mostra que tem mais vermelhas.
A esposa, creio que ela seja, examina o saquinho e mostra que tem mais vermelhas.
“Aqui tem mais, viu?! Mas tão no fundo. Eu guardo pra você”, explica a senhora.
O marido, presumo, ri. “A gente divide” .
E dividindo a vida – e todas as jujubas do planeta – eles somam suas vontades.
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