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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A FRONTEIRA FINAL



No dia 2 de dezembro de 1960, “a nave cósmica soviética desintegrou-se” , publicou a Folha de São Paulo na capa de sua edição de 3 de dezembro, “nas camadas densas da atmosfera, depois de ter recebido ordem para regressar à Terra”. Segundo a notícia, “às primeiras horas de ontem o satélite soviético já havia silenciado”.

Aqueles eram os primeiros momentos de uma corrida espacial entre Estados Unidos e a URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas com desejos mais bélicos do que científicos ou poéticos, o que me leva a recordar LUNIK 9, de Gilberto Gil:
“Poetas,seresteiros, namorados, correi /É chegada a hora de escrever e cantar /Talvez as derradeiras noites de luar/ Momento histórico, simples resultado do desenvolvimento da ciência viva /Afirmação do homem normal, gradativa sobre o universo natural /Sei lá que mais/ Ah, sim! Os místicos também profetizando em tudo o fim do mundo /E em tudo o início dos tempos do além/ Em cada consciência, em todos os confins/ Da nova guerra ouvem-se os clarins /Guerra diferente das tradicionais, guerra de astronautas nos espaços siderais /E tudo isso em meio às discussões, muitos palpites, mil opiniões /Um fato só já existe que ninguém pode negar, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, já! /E lá se foi o homem conquistar os mundos lá se foi /Lá se foi buscando a esperança que aqui já se foi /Nos jornais, manchetes, sensação, reportagens, fotos, conclusão: /A lua foi alcançada afinal, muito bem, confesso que estou contente também /A mim me resta disso tudo uma tristeza só /Talvez não tenha mais luar pra clarear minha canção/ O que será do verso sem luar? /O que será do mar, da flor, do violão? /Tenho pensado tanto, mas nem sei/ Poetas, seresteiros, namorados, correi /É chegada a hora de escrever e cantar/ Talvez as derradeiras noites de luar”.

Mas, de volta ao factual, a informação prossegue dizendo que “segundo a Rádio de Moscou, os dois cães que viajavam no aparelho suportaram bem as acelerações da partida e a fase de não gravidade”. Ou seja, dentro da cápsula estavam dois cães. E a notícia termina assim: ‘ “O contato por rádio com a nave funcionou durante todo o voo e permitiu verificar que as condições normais de vida se mantiveram na cabine, no que se refere à composição do ar e à sua temperatura”, informou a rádio’.

Aqui do meu lado dorme um sono solto a minha amada Lady, uma cadela da raça Labrador que é minha confidente, ouvinte da leitura dos meus escritos, de música e sócia na hora do lanche e almoço. Por isso não posso perguntar a ela quem é que recebeu a ordem para regressar à Terra. Não posso discutir com ela sobre quem teria avaliado o comportamento dos dois cãostronautas durante a partida e na fase de não gravidade para garantir que eles “suportaram bem”. Além disso, como é que “ o contato por rádio com a nave funcionou durante todo o voo? Num diálogo, o controle de Terra dizia “Космический аппарат, обмен! Ответ космического корабля” e os passageiros respondiam “au,au” ?

Por último, ao citar que “permitiu verificar que as condições normais de vida se mantiveram na cabine, no que se refere à composição do ar e à sua temperatura”, eu fico pensando que isso não atesta que a condição dos vivos os estivessem mantidos como vivos.

Sei que tem um tom de galhofa, de brincadeira. Mas pensemos: eu comento com a Lady sobre esse negócio de “fronteira final” ou deixo que ela durma o sono de quem nem uivar para a lua, uiva?

*A cadela na foto de ilustração é a Laika e está em www.tedstrong.com

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