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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

DE VOLTA AO PASSADO

DE VOLTA AO PASSADO *
O acadêmico Vivaldi Moreira define o dicionário “ como certas pessoas que o acaso nos prega a peça de encontrá-las numa caminhada pelas estradas da vida” . Segundo ele, “ saímos de casa com um propósito, um destino fixo ou prefixado, mas acabamos seguindo para onde a personagem imprevista nos conduz “ .

Gosto de consultar dicionários, pesquisar palavras. Costumo rabiscar algumas impressões sobre a vida a partir de palavras curiosas que encontro nas minhas viagens solitárias por entre os verbetes. Songamonga, por exemplo.

Tem espertinhos que dizem que o dicionário “ é o pai dos burros “ . Burrice é a deles. Dicionário, se porventura podemos impor-lhe alguma paternidade, é progenitor dos inteligentes, dos ávidos de saber, dos angustiados com a ortografia e dos curiosos, como este que atreve-se a estas digressões pessoais.
Desta vez quem me pegou foi  a palavra Nostalgia.

No meu tempo de criança, ainda na rua Bicas, o leite vinha em garrafas de vidro ou era comercializado em pequenos caminhões, as “ vaquinhas “. De porta em porta passava o vendedor de biju sacudindo a songamonguice da rua com sua matraca: telec, telec …

O mercado mudou. Tanto o comerciante quanto o cliente. Ensacaram o leite. Encaixotaram-no nessas embalagens tetra brik aseptic. A caixinha é uma verdadeira enciclopédia sobre uma das dádivas da Terra da Promissão. Dentro dela , um leite longa vida “ UHT Integral “ ( Ultra High Temperature ). Isto quer dizer, segundo a sapiência de papelão, “ que consiste num tratamento térmico à alta temperatura, por poucos segundos, mantendo as qualidades essenciais do leite”.

A lactante alfabetização ainda identifica os componentes nutricionais e um tal de  “estabilizante citrato de sódio “ que, conforme me explicou a Rosa, “deve ser alguma coisa que eles dão pras  vacas ficar quetas na hora deles colocar aqueles canudinho nas mama delas “ ; orienta o que fazer com a embalagem vazia, diz que não é preciso ferver o líquido e que “ não deve ser usado como única fonte de alimentação do lactente, salvo sob orientação de médico ou nutricionista” ; informa o telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor e o endereço do site na Internet. Mas não espere ser atendido por uma vaca ou receber um e-mail bovino.

Um vendedor de pães buzinando seu produto pela rua funcionou como uma máquina do tempo. Ele não carrega um balaio de vime no antebraço. Nem oferece biscoito de polvilho, broa, pão de queijo, brevidade. É só pão doce e de sal dentro de uma caixa verde de plástico cobertos por um plástico transparente. O som da buzina, ainda que tão cedo, é uma sinfonia de saudade. O vendedor de algodão-doce também usa uma para atrair compradores. No ombro vem sustentando uma árvore de cabelos de açúcar. De diversas cores, como o são os dos meninos deste tempo “descolado”. O toque é tranquilo, respeitoso. Comportamento bem diferente dos torcedores que saem do campo de futebol, após a vitória de seu time e danam a socar a buzina de seus automóveis e a gritar suas burundangas, numa espécie de extensão do massacre futebolístico.

Me agrada muito a palavra loas. A Letícia, colega de universidade, tem simpatia por lágrima. Acredita ela que é uma palavra forte, de múltiplos significados, que extrapola o espaço que lhe é destinado entre os vocábulos.
Pode ser que ela tenha razão. Pode ser que o seu ponto de vista me ajude a compreender estas que insistem em escapar de mim.

A fotografia está em  www.overmundo.com.br

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