ALTAR DE SACRIFÍCIO
Gostamos de mártires. Gostamos que os deuses venham até o altar dos sacrifícios e se deixem profanar por nossas mãos, nossas aflições, remorsos, vaidades, temores.
Deuses e semideuses também têm uma predileção pela profanação. Mártires se dispõem ao mais atroz sofrimento e nós gostamos disso. Cercamos o coitado com velas, orações, frases de efeito, lembranças e até registramos uma aproximação com a câmera dos celulares. Mártir que se preza é quem se dá ao espetáculo.
Existem aqueles que se sacrificam pela preservação do próprio nome. Outros, da história. Há mártires que se deixaram imolar para salvar a honra de instituições. Há mártires que resolvem dar exemplo de caráter mediante altas dosagens de paliativos morais.
Tem os que se eximem das responsabilidades de homens e fazem uso das prerrogativas dos títulos ou cargos que possuem para esconder uma trajetória marcada por desatinos, leviandades e outras atrocidades.
E os mártires de si mesmos. Os que sofrem as consequências de suas pretensas santidades.
Todos adorados por nós. Seus maiores demônios.
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