MÃOS *
Antigamente a molecada, para ofender ou intimidar os outros, fazia um círculo com o polegar e o indicador. Hoje, a meninada usa os mesmos dedos em forma de cano e cão de uma arma para se impor perante seus pares. A morte é uma metáfora nas mãos infantis. Pá! Pá!
Drummond afirmou e pediu:
“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”
As mãos desses meninos parecem que estão dadas à outro presente e suas esperanças sinalizam escassez, disputa e desamor. Não estamos taciturnos, estamos amedrontados. Somos omissos ou espremidos pela desfaçatez e pelo desrespeito. As mãos juvenis já não acenam, matam!
Para qual lugar esquecido se foi a infância do lápis de cor , dos contos da Carochinha, do medo do bicho-papão?
As novas fantasias estão nos muros, estão nas páginas policiais e cada vez mais próximas de nós. Armadas.
* Fotografia de acervo
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