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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

HISTÓRIAS




Ele retardou ao máximo a saída de casa. Só para dar tempo da hora passar e chegar a hora propícia de ligar para a amada. Antes das 10, num domingo, mesmo com um sol de rachar mamona? Nem pensar. Ainda mais que ela estava ‘dodói’. Mas quer ligar para confirmar se eles se encontrariam, rapidinho, ainda no final da manhã. É que para ir ao seu destino ele passaria bem ao lado, mas bem ao lado,mesmo! , da casa dela.

Nas histórias de fadas,duendes,dragões,reis e príncipes, as princesas moram em castelos, vivem em folguedos com suas amas e aias. Brincam com seus bichinhos de estimação, escovam os cabelos ao acordar e ao dormir. Umas aprendem a tocar harpa, outras alaúde. Algumas tecem.

A princesa dele mora num prédio alto, é moderna, descolada, independente, viajada. Bordado, piano, alaúde?! Credo, tá fora! Agora é notebook, celular,cervejinha com os amigos,uma festa aqui, outra ali, planos, contas a pagar. E uma boniteza. Lindinha,lindinha! O amor do resto da vida dele. Para sempre.
Então ele liga. Ela não parece bem.Ele diz que está saindo e que vai para a casa dos pais.Ela quer saber se ele vai dormir lá. Não,não na casa dela! Ela é moderna mas o fosso entre os dois não é um lodaçal pestilento com víboras e crocodilos. São outros quinhentos. Ou mil. Ela quer saber se ele vai dormir na casa dos pais dele.

Ele vai. Mas quer mesmo é encontrar com ela, só um pouquinho. Aquela tentativa de se fazer encaixar entre as tantas coisas que a sua princesa tem a fazer ou não fazer. Ele quer é entrar numa fresta, sabe? Naquela linha entre a hora cheia e a meia hora seguinte que as agendas possuem.

Ela não confirma o acerto do dia anterior. Ele reforça que está saindo de casa. Ela não capta a mensagem. Ele diz que eles vão se falando. De jeito nenhum vai perguntar se eles vão se ver. Ela pode não gostar,dizer que não está bem. Melhor deixar como está. E que ela fique boa logo.

Agora, passando ao lado do prédio dela, ele pensa que as princesas debruçavam na janela para ver os seus amados. Acenavam, tímidas. Jogam lencinhos, as mais atrevidas. Ou corajosas. Depende da intenção.
A princesa dela podia chegar até a janela e dar um tchauzinho. No domingo ensolarado, ainda que ‘dodói’, ela tem o computador , o celular,a cervejinha com os amigos, e a agenda.

Ele sonha demais, meu Deus! Que ideia é essa de dragão, fosso,alaúde. Alaúde?!


A ilustração está em www.comunidadeuniversorh.blogspot.com

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