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quarta-feira, 9 de junho de 2010

A ILUSÃO DE VIVER

FOTO:borboletragens.blogspot.com/2008_02_01_archiv...

A leitura é um dos meus maiores prazeres. Agora dividida com a paixão pelos dois netos, Samuel e Gabriel. Tantas histórias li e reli. Nos livros das inúmeras bibliotecas as quais tive e tenho acesso. Nos livros presenteados por meus pais, Seu Wantuil e Dona Filinha, pela minha avó, Dona Lica, pela Tia Lourdinha. E por amigos, por amores, pela amada. Nos livros que estão por todos os cantos da casa onde moro com minha Lady, uma cadela da raça Labrador.

Reinações de Narizinho, Três escoteiros no rio Paraguai, As Brumas de Avalon, coisas sobre Woody Allen, escritos de Lya Luft, José Saramago, os clássicos, Vila dos Confins, Chapadão do Bugre, A menina morta, ...Tantos, todos os dias e por todos os dias que espero sejam autorizados a vir.

Esse possível vir me remete para a ilusão do viver. Vamos morrendo todos os dias. Cada minuto vivido corresponde a um minuto mais perto do fim. Portanto, sem pessimismo, nada melhor do que iludir-se e...viver.

Assim me parece ter sido o sentimento de uma menina, personagem de uma das tantas histórias que li. Neste caso, uma história de um livro que minha mãe comprou, creio, nas Lojas Americanas, lá se vão alguns muitos anos.

Pobre, a protagonista - e primogênita – na véspera de Natal sai pelas ruas geladas de sua cidade para vender caixas de fósforos coloridos. Esses fósforos que costumamos usar nas festas juninas. Vender essas caixas e levar algum dinheiro para amenizar, pelo menos por uma noite, a fome de sua mãe, viúva , e seus irmãos, é a grande tarefa da menina.

Contudo, ninguém se interessa pelos fósforos e muito menos pela criança. O frio aperta, volta a nevar. Por mais paradoxal que seja, a personagem descobre que vai morrer congelada se não tomar uma providência. E toma. Não vai embora para casa. Acredita que venderá algumas caixas. Ao mesmo tempo, começa a riscar um fósforo de cada vez na expectativa de aquecer o corpinho frágil.

A cada fósforo riscado, a noite gelada recolhe-se momentaneamente no abraço de luz ora verde, ora vermelha, ora azul. que tentar aquecer a menina. Mas, no instante seguinte, o frio escuro retorna, implacável. O rostinho da pobre criaturinha, a cada brilho, é um flash de esperança que, com a volta da noite, nubla-se de angústia.

Ela queima fósforo após fósforo e as respectivas caixas vazias. Por fim, o último fósforo, a última caixa e o frio sacando-lhe a vida.

Vivemos a ilusão da vida com as caixas de fósforo que recebemos. Primeiro, deixamos que sejam queimados por terceiros. Depois acreditamos que podemos queimá-los sozinhos. A seguir, os queimamos apenas para nós. Quando descobrimos que poderíamos fazê-los mais coletivamente, dividir com alguém, costuma ser tarde.

Na noite do egoísmo, do consumismo exacerbado, na falta de comunicação, no desamor, na usura e na ganância, no cerceamento da liberdade, na eliminação da palavra nossos fósforos se vão. E não é possível guardá-los pois a ilusão de viver não pode ser para amanhã. A vida não pode ser guardada para uso posterior.

A vida é a chama colorida de cada fósforo. O máximo que podemos fazer é direcionar a sua luz ou aceitar a escuridão que intermedia o próximo acender. Se esse houver.

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