Powered By Blogger

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

UM FILME

UM FILME *

Meu pai, filho único, ficou órfão de mãe aos 9 anos. Meu avô vendeu a propriedade onde moravam e vieram os dois para a cidade, Piumhi, oeste/sudoeste de Minas.

Mais velho, já no início da juventude, dono de uma excelente caligrafia, arranjou emprego de cartazista no cine  Cassini . Preparava a tinta e escrevia nas folhas de papel ou nas tabuletas de latão os tradicionais ‘Em breve’, ‘Sexta-Feira’ , ‘Matinê’ e o nome do filme, o horário. Assistiu ‘Amar foi minha ruína’, ‘Gunga Din’, ‘Sete noivas para sete irmãos’, ‘A batalha de Waterloo’, filmes com Boris Karloff.

Daí veio para Belo Horizonte para ocupar a função de ascensorista no prédio onde era o cine Brasil, na Praça 7, e que também era o escritório da empresa de Cinemas e Teatros de Belo Horizonte.
Assim que as coisas se ajeitaram, ele trouxe meu avô para ser faxineiro no cine Brasil. Foi subindo e descendo naquele elevador de porta sanfonada que ele conheceu minha mãe. A irmã dele era secretária do doutor Hilton Rocha.

Ainda menino, lá pelos 6, 7 anos, passei a frequentar os cinemas do centro da cidade. Papai, agora funcionário do Banco da Lavoura  – depois Real e agora Santander – na seção de Ordem de Pagamento, continuou trabalhando para a Cinemas e Teatros. Era gerente do cine Independência e cobria a folga do gerente do cine Horto. Meu avô, de faxineiro também alcançou o posto de gerente nos cinemas do centro da cidade: Brasil, Guarani, Tupis(depois Jacques) e Tamoio. Querido na empresa, dormia num quartinho ao lado do cine Guarani.

Assisti Tarzan, com o John Weissmuller e a Maureen O’Sullivan, A noviça rebelde, Sissi, O Dólar Furado, O corcunda de Notre Dame ,versão de 1956, com o Antonhy Quinn e a Gina Lollobrigida…Aos domingos levava a molecada da vizinhança para a matinê no Independência.

Aprendi a colocar e trocar filme nos projetores, colecionava pedaços de películas que arrebentavam durante o manuseio ou na projeção, bancava o porteiro recebendo os ingressos.
O cine Guarani agora é o Museu Inimá de Paula e não sei o que fizeram com o quartinho do meu avô. O elevador onde meu pai trabalhou, segundo li, vai ser transformado em uma cabine telefônica, tão logo termine a reforma do cine Brasil.

Meu avô gerencia cinemas no céu. Meu pai, sempre que nos encontramos,  troca saudades comigo.

Fotografia de acervo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivo do blog