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domingo, 19 de janeiro de 2014

NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tem um menino e seu cavalo

CAVALEIRO

NO MEIO DO CAMINHO TEM UM MENINO E SEU CAVALO

Pelas ruas da Savassi, a região da moderna urbanidade provinciana de Belo Horizonte, passa um menino montado no seu cavalo baio. Os olhares ruminantes dos transeuntes ruminam as razões da cavalgada por entre as vitrines do fashion e as passarelas do fútil.

Um cavalo na praça? Um cavalo na calçada atrapalhando o trânsito de tantas outras cavalgaduras? E  os nossos direitos de cidadãos ultrajados por um quadrupede que relincha e carrega no seu dorso, em pelo, um menino sem camisa?

Chamai as forças de repressão! Vinde o conde prefeito! Correi todos os candidatos à próxima eleição que defendem a ordem pública – e a desordem privada! Um menino montado em seu cavalo baio atravessa o caminho da tradicional família mineira e vai visitar a sua avô. Um menino chamado Sérgio Gabriel Dias Vieiras faz a sua cruzada, da Serra ao Betânia, para visitar a avô, enquanto  o lobo mal da nossa cretina moral imoral não apareça para intimidá-lo com um “você sabe com quem está falando?”.

Tamanha afronta à pasmaceira geral que passeia entre carros e caminhões não passa despercebida  à vida bobinha que espia o mundo e não entra nela pois o maior prazer é espiar. O poeta Paulinho Assunção explica que “o olhar de Minas vê pelas frestas” e as nossas insignificâncias se espremem por entre elas em busca de significados. E um menino no seu cavalo baio no meio do caminho desse paroquialismo é explodir as fissuras que mantém o povo bisbilhoteiro em contato com o alheio.

O menino é um duende, é um elfo, é o Lone Ranger, o Zorro, o Durango Kid, o Roy Rogers, Jerônimo, o herói do sertão, é o Harry Potter, o Peter Pan, O menino do pastoreio, o hobbit é um Cartwright  que vem de uma Ponderosa lá dos confins de seu coração. É o Gandalf contra o Saruman cotidiano. Aquele que explica o mal do “um anel’.  Que cavalgar é preciso, não no sentido de exatidão quanto no poema, mas pela necessidade de dar poesia às nossas caminhadas. Ainda que “perdido em pensamento”, é preciso por a vida em cima de um cavalo e mudar o roteiro da romaria.

Diz Thomas Hobbes  que se o homem é, por natureza, desejante, a pólis é, por natureza, uma guerra. O menino deseja, montado no seu cavalo baio, visitar sua avó. O menino Sérgio quer ser um cuidador de cavalos.  Não está preocupado com a vida alheia, ainda que a sua seja alheia para as vidas que o espreitam.

O menino e seu cavalo,  no meio do caminho da guerra diária, vem trotando pelo vento da paz. Essa paz andante que a gente pensa que está na vitrine mais bem iluminada da rua.

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